Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Venezuela / Rumo à Colômbia I

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Como já fizemos antes, vamos descrever nesta e na próxima página todas as etapas que nos conduzirão à fronteira com a Colômbia. Apesar de acreditarmos ainda ver coisas bonitas, já estamos no processo de saída do país: esse é o objetivo dos próximos dias de viagem.


02/05/2011 - Segunda-feira: Mérida - Trujillo

Conversando com Markus, o proprietário da Casa Allemana Suiza no domingo, ele nos havia indicado o caminho para Trujillo como uma volta de mais ou menos dois terços do caminho realizado na sexta-feira e depois a passagem pelo passo mais alto da Venezuela: o Paso del Condor, a mais de 4.000 metros de altitude.

Estávamos com esse plano na cabeça, mas hoje no café da manhã perguntamos a ele se não havia outro caminho - não estávamos morrendo de vontade de enfentar o frio e as prováveis nuvens que encontraríamos no passo: já é difícil tourear esses motoristas venezuelanos com visibilidade total, no meio de neblina é demais para nossa saúde.

Markus disse que certamente havia outra estrada, por El Vigia, que na realidade é a estrada preferencial, por ser mais larga e com curvas amplas, permitindo o trânsito de ônibus e caminhões de grande porte que nem conseguiriam trafegar na estradinha de Barinas.

Pegamos esse caminho e foi muito bom: por mais bonita que seja a estrada de Barinas, era mais interessante viajar por uma nova estrada. Além disso tivemos a oportunidade de ver a Mérida mais moderna, com condomínios, shopping centers e outros detalhes que nos ajudaram a ter uma impressão mais completa e menos preconceituosa da cidade. E, finalmente, foi realmente uma viagem mais confortável, apesar de alguns pontos complicados ao longo do trajeto.

Primeiro a estrada literalmente despenca morro abaixo, e em aproximadamente cinquenta quilômetros estávamos no nível da sabana que é a área não-andina desse lado da Venezuela. Esse trecho é muito bom, com pistas largas e terceiras faixas nas subidas. Só há um probleminha: uma sequencia de três túneis, dos quais um tem quase um quilômetro e meio de extensão e outro quase três, totalmente às escuras. Felizmente os refletivos e as faixas da estrada são muito bons, porque senão teria sido muito complicado atravessar esses túneis.

Uma coisa meio maluca que vimos nesse trecho (e só nele) e para a qual não temos explicação: ao longo da estrada havia tendinhas (como outras tantas em todas as estradas) vendendo papel higiênico!!! E os carros paravam para comprar, normalmente um número grande de rolos.
Falando em coisas que se vendem na beira da estrada, uma das que mais chama a atenção são lubrificantes: por todo lado, fora e dentro das cidades, vende-se aceite. Está certo que esses carros velhos devem consumir quase tanto óleo quanto gasolina (pelo menos é isso que sugerem as manchas em todas as vagas dos estacionamentos de postos, restaurantes e shoppings), mas mesmo assim é muito lubrificante à venda.

De El Vigia em diante a estrada fica mais lenta mas ainda assim relativamente rápida, e assim seguimos até o estado de Trujillo.
Mas antes passamos por um ponto onde ocorrera um desbarracamento grande, e o trânsito estava parado para que uma escavadeira limpasse a estrada. Avançamos até o início da fila e o policial que estava controlando o trânsito mandou que seguíssemos em frente. Seguimos seu comando e avançamos até estarmos a uns dez metros da escavadeira, que continuava girando para lá e para cá com aquela pazona, sem tomar o menor conhecimento de nós.
E cadê coragem para passar. Ficamos ali esperando que o operador da máquina fizesse uma pausa ou chegasse um pouco para o lado (foi o que acabou acontecendo) para podermos passar. E enquanto estávamos parados ali 'admirando' a escavadeira, mais terra escorregou ao lado dela - que sensação ruim!

Chegando ao estado de Trujillo não tínhamos mapa e fomos navegando por instinto - que até que tem funcionado mais ou menos. Paramos para perguntar como chegar a Trujillo (a cidade - estamos enfatizando isso porque foi o que o perguntado nos disse: "vocês já estão em Trujllo, querem saber como chegar à cidade?") e fomos corretamente orientados.

O problema aqui na Venezuela é que os crítérios para colocação de placas indicativas são completamente insondáveis. Às vezes chega-se a trevos (distribuidores) e saídas sem nenhuma placa, e quando as há, uns cem metros depois aparece uma bifurcação sem a menor indicação. E agora? Felizmente os venezuelanos são extremamente prestativos, e nunca paramos para perguntar sem receber uma resposta pelo menos parcialmente útil.

Mas enfim chegamos a Trujillo, depois de percorrer uma estradinha secundária bem estreita e mal cuidada. Aí procurar hotel foi uma novela: depois de uma rodada pelo centro sem ver nenhum paramos para perguntar e nos deram uma indicação genérica sugerindo que perguntássemos de novo mais adiante. Demoramos umas quadras demais para fazer isso, e pagamos um preço bem alto: começou a chover, e enfiados no centro daquela cidade levávamos uns bons cinco minutos para dar uma volta na quadra e corrigir o rumo tomado erradamente.
Mas no final chegamos ao Hotel Country, e quando o vimos comentamos que ficaríamos ali de qualquer maneira, pois já estávamos bem molhados. O hotel tinha jeitão de caro - e realmente foi o melhor hotel em que ficamos na Venezuela. E ao mesmo tempo o mais barato!!! Que agradável surpresa. E ainda por cima tinha restaurante, o que resolveu nosso problema de alimentação sem necessidade de sair novamente.
Um comentário político para finalizar: quem acha que Lula é populista e que se desenvolveu um culto de personalidade em torno dele, precisa vir aqui. O Chaves está em toda parte, se apresenta como responsável por tudo que acontece de bom, tem programa de televisão que parece Silvio Santos, etc.. O lulismo é aprendiz perto disso aqui.


03/05/2011 - Terça-feira: Trujillo - Maracaibo

Eta viagem cansativa e chata! São somente 250 quilômetros, dois terços em estrada que permite facilmente velocidades acima de 100 km/h. Quer dizer, permitem durante uns 3-5 quilômetros, pois essa é a distância máxima entre cada grupo de lombadas. Podemos afirmar tranquilamente que em 200 quilômetros passamos, estimando muito por baixo, por pelo menos cento e cinquenta lombadas. E são daquelas que obrigam uma redução para segunda, quase primeira marcha.

E não entendemos o comportamento dos motoristas nessas lombadas. Que as latas velhas quase parem sobre elas é compreensível, pois não devem ter mais suspensão. Mas os motoristas de carros novos fazem o mesmo. Eles devem ter um medo terrível de problemas em amortecedores. Será que são peças particularmente caras? Não temos resposta...

Ah, e o que já havíamos comentado antes, que as informações são sempre de tempo de viagem ao invés de distâncias, fica mais fácil de entender depois dos mais de 2.500 quilômetros rodados neste país: ao longo dessa distância devemos ter visto, no máximo, umas vinte placas indicando distâncias. E praticamente todas em autopistas, que são pouquíssimas. Pelo jeito essa informação é realmente inexistente: o Google Maps também não sabe construir roteiros entre cidades venezuelanas.

Chegamos cedo em Maracaibo, e o caminho que fizemos para nos aproximar do centro nos levou por uma área de vendedores ambulantes completamente inacreditável. Pensem na pior área de camelôs de uma cidade brasileira, e não chegarão nem perto do que vimos aqui. São um bom par de quilômetros de ruas com barracas dois dois lados, invadindo a pista de rolamento, com carros parando para comprar, enfim, uma confusão indescritível.

Achamos a avenida que uma pessoa em Trujillo nos indicara, mas acabamos ficando no primeiro hotel que vimos, sem procurar a pousada que ele sugerira - não sabíamos o nome dela, e optamos por não continuar rodando só procurando por "uma pousada nova" numa avenida bem movimentada por este trânsito maluco.

Instalados, começamos a contar os dias e olhar a Internet e concluímos que cometemos um erro crasso de planejamento: não deveríamos estar em Maracaibo mas sim em Coro, no litoral. Por quê? Temos 12 dias até o embarque para o Panamá, tempo difícil de cobrir dentro da Colômbia - achamos que não há tanto para fazer, nem para não fazer por tanto tempo. Mas agora que estamos aqui, ir amanhã para Coro e passar dois dias lá nos colocará na travessia da fronteira no sábado, o que também queremos evitar a todo custo, pois sempre há o risco de dificuldade para trocar dinheiro ou comprar seguro para a moto.

Então estamos aqui, escrevendo e com um enorme ponto de interrogação na cabeça: o que fazer amanhã??? Por enquanto, boa noite!
Diários de Bordo