Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: EUA

Alasca (I)

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28/07/2011 - Quinta-feira: Juneau

Ah, esquecemos de dizer o que devia ser o 'brado de conquista' ontem: chegamos ao Alasca!!! Mas afinal, chegamos no escuro, com chuva, sem placa de fronteira ou nada parecido para fotografar! Um bocado anti-climática essa chegada. Mas tudo bem, estamos no Alasca e estamos muito felizes de ter chegado até aqui.

E curiosamente, por puro acaso, chegamos quase exatamente cinco meses depois da partida: se contarmos trinta dias como um mês, chegamos no dia 151 da viagem, exatamente o primeiro dia do sexto mês.

O dia começou com a necessidade de resolver um problema surgido na noite anterior: pretendíamos passar um dia e meio em Juneau, seguindo em seguida para Haines e de lá para Anchorage. Estávamos preocupados com a disponibilidade de lugar no ferry para Haines, e ainda ontem à noite fizemos a reserva para dia 29/07 - e não tivemos escolha: dos três navios do dia só um ainda tinha lugar.

Feita essa reserva fomos olhar hotel, e aí veio o susto: todos que dava para consultar online estavam lotados! Disparamos emails para todos os outros e fomos dormir. Hoje começaram a chegar as respostas, e todas negativas. E agora?

No café da manhã a funcionária do hotel falou sem parar por mais de meia hora orientando os clientes sobre o que ver em Juneau - uma boa guia turística. Aproveitamos para perguntar sobre esse problema de hotel em Haines, e um outro hóspede, morador de lá, respondeu que nesse fim de semana está sendo realizada a Southeast Alaska State Fair, uma festa anual com várias atividades, parada, exibições, comidas típicas, grupos musicais e festival de dança de salão, que não pode deixar de acontecer nessa terra.

Pensamos um pouco e decidimos mudar os planos: como não havia ferry disponivel no sábado (tudo lotado pelo mesmo motivo) optamos por sair de Juneau no domingo de manhã e seguir direto para Destruction Bay. Reservamos quarto no único hotel de Destruction Bay e fomos até o terminal de ferries remarcar a passagem. Sem problema, saímos de lá com essa questão resolvida - bem mais tranquilos.

Ah, e a grande e agradável surpresa foi o tempo: estável, meio encoberto, com um ventinho frio mas lá pelo meio-dia, quando pudemos começar a 'ser turistas', o sol apareceu e dava para ver o azul do céu! Mas o ar está frio - a temperatura na sombra não passa dos 16 graus!
Primeiro fomos ao Mendenhall Glacier. Antes de chegar ao glaciar passamos por um riacho onde havia muitos, muitos, mas muitos salmões adultos, grandes, subindo o rio para o ciclo de reprodução. Coisa linda!

E fomos informados por nossa 'guia' no hotel que no fim da tarde, entre 18h e 20h, poderia ser possível ver ursos pretos que vão 'jantar' ali. Há muitos avisos espalhados pelo parque dizendo que lá há uma pequena população de ursos e que quando os peixes estão no riacho, chamado Steep Creek, o número de ursos e a oportunidade de vê-los aumenta. E isso é provado pelos restos de peixes que encontramos às margens do rio, abandonados pelo urso por alguma razão.
A atração principal é a geleira, que já teve uma área que era o triplo do que ela é hoje. É linda! Foi a primeira vez que vimos algo assim. Mas ao mesmo tempo que ela é linda dá certa tristeza saber que ela já foi maior e está sendo destruída pelo aquecimento da Terra. Sua cor é branca, azulada, esverdeada e meio cinza.

Há também uma cachoeira bonita que se pode visitar por uma trilha. Pegamos o que pensamos ser essa trilha, mas depois de caminhar uma meia hora decidimos voltar - depois veríamos que realmente estávamos na trilha errada. Logo que tomamos essa decisão passou um jovem com uma senhora metralhadora (ou fuzil metralhadora, não entendemos nada disso) pendurada no ombro. A Beth ainda olhou surpresa e exclamou: "What's this?" E ele, sem parar e caminhando rápido, simplesmente disse: "É uma arma".

Se estávamos em dúvida se continuaríamos ou não, esse jovem resolveu nosso dilema. Chegando na sede do parque fomos avisar o guarda, e ele respondeu que é permitido andar armado, mas não com uma arma totalmente automática. E uma senhora que estava ao lado disse que já haviam informado, em outras ocasiões, a respeito de pessoas armadas no parque. Nos Estados Unidos pode-se ter em casa qualquer tipo de arma, mas há restrições para o porte. E ficou por isso mesmo. Não é à toa que de vez em quando um louco atira e mata várias pessoas. Muito esquisito...
Eram 16h quando resolvemos ir para a cidade almoçar. No parque, justamente por causa dos ursos, não há lanchonete e é expressadamente proibido levar qualquer tipo de alimento e bebidas. O primeiro almoço no Alasca não podia ser outro: uma combinação de King Crab, Dungeness Crab e Snow Crab! Coisa deliciosa!!!

O restaurante fica à beira mar, na baía, e de lá víamos, bem de pertinho, três grandes navios de cruzeiro. Depois fomos passear para ver bem de perto dois desses navios, enquanto um deles já partia.
Passeamos por uma parte do centro da cidade, onde voltaremos amanhã para visitar alguns museus. Acabou não dando tempo de ir ver os ursos. Vamos ver se amanhã iremos.


29/07/2011 - Sexta-feira: Juneau

Tempo encoberto, vento frio e temperatura 13,5 graus - que verão maravilhoso...

A encarregada do café da manhã falou que ontem os ursos não apareceram no riacho - não perdemos nada. Aliás essa conversa de ver urso, deve ser igual à de ver baleias. Esses animais aparecem quando querem, você pode até tentar vê-los, mas ninguém garante que realmente eles estarão lá. Achamos que vamos desistir de ver ursos por aqui. Teremos, possivelmente muitas oportunidades de vê-los - a questão é se quando os encontrarmos eles estarão suficientemente longe!

Fomos para um lugar fechado para evitar um pouco o frio: o Museu do Estado (State Museum). Ficamos lá quatro horas vendo o interessantíssimo acervo. Muita história, muitas explicações sobre a natureza, muitas informações: como vivem os vários grupos de nativos, como aproveitam animais, aves e a vegetação para fazer roupas, embarcações, utensílios para casa, armas, chapéus, adereços pessoais além do óbvio, alimentação. Ainda queríamos ver mais dois museus, porém não deu tempo.

Depois fomos procurar uma loja para comprar gorros de lã para podermos suportar o verão desses dias por aqui. Compramos um para cada um, daqueles que cobrem a orelha. No caminho da loja vimos umas pessoas tão agasalhadas quanto nós. Comentamos que deveriam ser da América do Sul ou Central. Dito e feito, voltamos a encontrar o grupo na loja onde fizemos nossas compras e eles falavam em espanhol. Mas é muito contrastante: nós com gorro e luvas, antes era de capacete e luva, andando pelas ruas e o pessoal daqui de bermuda, camiseta, chinelo de dedo...

Como só se chega a Juneau por ar ou por mar, não há muito o que falar de estradas aqui. A única que pode ser chamada assim (tem número como toda estrada que se preze) é chamada de A Estrada (The Road). Ela tem aproxidamente 65 quilômetros, e simplesmente termina depois disso. Fomos dar uma volta de moto até o final da rodovia do lado sul da cidade. Depois de dez quilômetros, dos quais cinco com aviso de possibilidade de avalanches, chegamos ao fim – END -da estrada.

É um estrada estreita, não tão bem conservada que serve a várias casas que se encontram de ambos os lados da pista, no meio da mata. Chegamos a pensar em ir ao outro lado também mas acabamos desistindo: andar sessenta quilômetros para ver outra placa dessas não fazia muito sentido.

E havia outro navio de cruzeiro atracado. Parece haver muitas dessas viagens no verão. Elas partem de Seattle ou  Vancouver e visitam várias cidades no Alasca. Deve ser interessante - só não sabemos para que as varandas de muitas das cabines (rsrsrs).

Voltando para a moto vimos algo curioso: um rapaz com uma vara de pescar num cantinho do cais, embaixo do navio de cruzeiro atracado. Ainda pensamos: pescando aqui, nessa água até com um pouco de mancha de óleo de tantos barcos e navios! Ele deve estar dando banho na isca. O tempo não estava bom e a namorada dele estava sentada numa pedra, olhando.

Paramos para ver e aí olhamos melhor a água e vimos, inacreditável... dezenas de peixes, com bons dois palmos de comprimento. E na linha nem isca tinha. Estamos até agora especulando se ele estava tentando fisgar um peixe com o anzol, tentando acertar um deles na cabeça com o peso da linha ou qual era a dele! Muito doido!


30/07/2011 - Sábado: Juneau

Uau, hoje tivemos sol o dia inteiro, temperatura chegando aos 17 graus! Que coisa espetacular, a cidade onde chove barbaridade nos acolheu com três dias sem chuva. Que bela recordação levaremos de Juneau! Estivemos aqui no dia do verão!

Fomos visitar Last Chance Mining Museum da época da corrida do ouro em Juneau. Essa companhia - AJ Gold Mine - funcionou de 1914 até 1944. E o acervo do museu é muito interessante, mostrando as máquinas, instrumentos, roupa dos exploradores, minérios encontrados na região e também dá a oportunidade de você tentar achar ouro no riacho onde foram feitas as maiores descobertas de ouro.

O museu fica na única edificação que está ainda de pé, que era a casa do compressor, que por sinal era gigantesco. A apresentação do acervo não é muito organizada, nem muito preservada, mas dá uma boa ideia de como era difícil trabalhar na época naquela atividade. A cidade tem joalherias em profusão, muito mais do que restaurantes e farmácias. E o desenho das peças é muito bonito e exclusivo.

Depois subimos de teleférico ao Monte Roberts. A vista lá de cima é muito bonita, pois se vê grande parte da cidade, além do estuário por onde entram as embarcações, as marinas, o aeroporto e, como o tempo estava bom e sem nuvens, pode-se ver o topo de várias montanhas, muitos ainda com neve, contrastando com o verde da vegetação. Pode-se assistir um filme de 18 minutos sobre as etnias nativas da cidade, há uma águia de cabeça branca, que é o símbolo dos Estados Unidos, enorme, presa, e diversas trilhas pela mata.

Havia uma encarregada desse parque que estava com um telescópio pequeno e explicava às pessoas que era possível ver um ninho de águia.
Fomos conferir e no ninho havia uma águia e seu filhote de aproximadamente sete semanas, que já tinha o tamanho de uma galinha. Ela o estava alimentando e, possivelmente, dali a mais três semanas ele já sairia voando. A olho nu não dava para perceber onde estava o ninho de tão longe que era. A águia de cabeça branca faz seu ninho em árvores que perderam sua copa e que sejam bem altas, longe de predadores.

Fizemos uma foto e depois 'puxamos' no micro para tentar aproximar o ninho, mas claro que não saiu lá grande coisa.
Mesmo assim está aí - queríamos compartilhar essa visão privilegiada que tivemos hoje. A águia adulta está na parte 'de cima' e o filhote está bem no meio - ele ainda é todo marrom.

Hoje havia novamente mais quatro navios de cruzeiro parados no cais - incrível o movimento dessa cidade. Um deles era o Disney Wonder, que víramos saindo de Vancouver no dia 19/07, depois o encontramos no dia 25/07 a caminho de Prince Rupert (ele estava voltando) e hoje ele já estava por esses lados. Esses navios têm que aproveitar o verão que é a época para se viajar por aqui. E esse turismo deve ser muito bom para a cidade, pois quatro navios desse porte trazem muito movimento para a cidade.

Depois passamos pelo tradicional Red Dog Saloon bar, restaurante, pub, da época da corrida do ouro, 1900, com as portas de entrada de vai-e-vem, estilo velho oeste, chão cheio de terra espalhada e com uma decoração típica da época. Mas lá, para nosso gosto, não havia o que comer, pois há mais sanduíches. Para quem gosta de hambúrguer vale a pena.


31/07/2011 - Domingo: Juneau - Destruction Bay

Antes de mais nada, quem olhar no mapa constatará que Destruction Bay fica no Canadá! Uai, não estávamos no Alasca? Pois é, mais uma maluquice que aparece ao longo da viagem: a única estrada ligando Haines ao resto do Alasca passa pelo Canadá, com direito a controle de passaporte e aduana como em qualquer fronteira que se preza.

E de quebra ainda com direito a dois estados canadenses: entra-se por British Columbia e depois passa-se pelo Yukon. Amanhã voltaremos para os EUA / Alasca...

A viagem começou com mais um ferry de Juneau até Haines, pois como já falamos é uma das duas maneiras de se sair da cidade, a outra é por via aérea. Fomos para o cais às 6h da matina e o ferry saiu às 8h03min. A viagem desse horário é rápida, duas horas e meia, pois é realizada com um barco de alta velocidade: 70 km/h.

O trajeto é muito bonito, entre montanhas nevadas com muita vegetação, rios descendo das montanhas e até chegamos a ver novamente o borrifo de uma baleia. Infelizmente ao chegar a Haines ficamos mais uma meia hora no mar, aguardando que outro ferry liberasse o cais, pois só há uma plataforma de embarque e desembarque. Ainda bem que todos os ferrys dessa linha custam a mesma coisa - imagine pagar mais pelo rápido e ter que ficar esperando pelo lento!

Saímos de Haines e tocamos direto para Destruction Bay, onde pernoitamos.

A viagem foi bem emocionante. Primeiro porque em alguns trechos da estrada, que é pista única com duas mãos de direção, o asfalto está ruim: foi jogado o cascalho e passada uma camada fina de asfalto, as pedras continuam aparentes, e é preciso diminuir a velocidade. Em outros trechos há até fechamento de uma mão da pista e é feito um comboio. Um hóspede do hotel de Juneau contou que a estrada quebra toda com as diferenças de temperatura no inverno.


A temperatura era de uns 17 graus, caiu para 9 numa serra, e chegou em alguns trechos a 19 graus com sol aberto. Mas o vento é sempre forte e muito frio mesmo quando o sol sai. E para completar chegamos com chuva e com frio. Mas o trajeto é muito bonito, pois há uma variedade imensa de vegetação, de relevo, muitos rios, lagos enormes e cachoeiras. O Yukon é um estado muito bonito!

Esse lugarejo, Destruction Bay, fica à beira de um grande lago, chamado Kluane, que se estende por setenta quilômetros, com uma área de 400km².
Ele tem uma rua, ou melhor fica ao longo da estrada, e é um agrupamento de motel, restaurante, lojinha e posto de gasolina e parece que acabou a cidade. Nem polícia tem, mas há uma ridícula, mas bem feita, silhueta de carro da polícia, de madeira, 'estacionada' um pouquinho antes do motel.

O restaurante fecha às 22h e a recepção do hotel, lojinha e posto de gasolina às 23h. Achamos que depois disso todos vão embora e os hóspedes ficam a Deus dará. E avisaram que só voltam amanhã às 7h.
O lugarejo tem 59 habitantes e tem seu nome ligado a um vendaval que destruiu o alojamento dos encarregados de construir a estrada, em 1942. Só não conseguimos descobrir com quem eles enchem 31 quartos do motel...

E cá estamos em nosso quarto, no pico do verão, com o aquecedor no quarto ligado, isso porque é verão. Haja saúde para essas variações climáticas! Boa noite!


01/08/2011 - Segunda-feira: Destruction Bay - Glennallen

Continuamos nos perguntando como eles enchem o motel, mas nessa manhã ele estava quase lotado - o estacionamento estava cheio!

A atividade que mais ocupa os turistas e habitantes daqui é a pesca e caminhadas: há uma infinidade de placas orientando a respeito das várias trilhas, passeio de bicicleta ou a cavalo. Não é bem o que procuramos!

Fomos tomar o café da manhã. Onde? Claro que no restaurante do motel onde estávamos. O único da cidade (?), ou quase único. Depois vimos que havia mais um, mas estava fechado por tempo indeterminado. Na realidade há outro lugarejo, um pouquinho maior – será? - a dois quilômetros de distância.

Ao lado do motel, ontem, havia um helicóptero. Nem ligamos. E essa manhã ele chega não sabemos de onde, trazendo não sabemos quem, mas parece que é bem usado.

Lemos no jornal que as pessoas de fora vêm morar aqui porque se apaixonam pela beleza da natureza e pela honestidade das pessoas locais.

Hoje nos vestimos à altura do clima: calça comprida segunda pele, mais a calça de cordura e a de chuva por cima, camiseta, blusa segunda pele, mais casaco de cordura e casaco de chuva, luva segunda pele e luva de couro. A Beth ainda usava um par de meias adicionais, balaclava e luva cirúrgica. Desta vez o frio não nos pegou! Deu certo: a temperatura estava em 14ºC: tranquilo, nem percebíamos. E assim foi durante a viagem toda, sendo que a temperatura chegou a 18ºC e estava muito cômodo. O sol já tinha saído logo cedo e continuou grande parte da viagem.
A atendente do restaurante contou que durante o inverno, de novembro até março, não se vê o sol, pois ele corre muito deitado e as montanhas do outro lado do lago o encobrem. Já pensaram? Quatro meses de inverno sem ver o sol? Aliás, tempo encoberto por aqui é o usual. Quando há sol é festa!

Nossa primeira parada lembrou um alerta feito por Axel, nosso conhecido mexicano, para a quantidade e tamanho dos mosquitos por aqui. Paramos em Beaver Creek e tivemos medo de abrir a viseira dos capacetes: era uma revoada em torno da cabeça, e os bichos são muito grandes!
O trajeto da estrada é bonito e as obras continuaram até quase a fronteira com os Estados Unidos/Alasca. Já no restaurante havíamos perguntado sobre as condições da estrada, sabíamos o que nos esperava. mas havia até um trecho em terra com cascalho fino jogado por cima. A moto dançou um bocado!

Entre o posto de imigração do Canadá e o posto de entrada nos EUA rodamos trinta quilômetros. De quem são esses trinta quilômetros? Do Canadá? Dos Estados Unidos? Se não for de ninguém, mesmo sendo nessa parte tão fria do mundo, podem nos dar que aceitamos: a região é de uma beleza exuberante. Parece intocada mas sabemos que não é assim, a corrida do ouro e agora as madeireiras devem fazer um senhor estrago. Mas o necessário é feito para que esse estrago seja corrigido com a plantação de novas árvores. Mas em certos trechos a temperatura deve ser tão baixa no inverno que as montanhas são sem vegetação alguma: rocha pura e escura.
E finalmente pudemos fazer um registro de entrada no Alasca como deve ser: em Juneau não havia nada e em Haines a placa era tão mixuruca que não animou. Agora sim, eis nossa entrada triunfal no Alasca.

E a pista se transformou num tapete! Ah! Agora a viagem vai render! Pura ilusão. Depois de alguns quilômetros o asfalto estava desgastado e irregular. Além disso há muitas ondulações, ou depressões, que você só percebe quando caiu nelas. Para completar o último trecho foi de 38 quilômetros de terra e cascalho meio solto, acompanhado de um vento em rajadas que deixava a moto quase deitada... chegamos bem cansados. Foram 576 km em 9h15.
Mas tivemos uma compensação: vimos uma mamãe alce (ou seria alce-fêmea, ou talvez alça?) com seu filhote, o alcinho. Muito lindo! Estavam numa lagoa: primeiro avistamos só a mãe e como ela não tinha chifres, achamos que era um cavalo. Paramos, puxamos o zoom da máquina e vimos que era um alce pela maneira como ela enfiava a cabeça na água por alguns minutos para procurar comida (caribus sem chifres são muito parecidos, mas são animais mais terrestres). Depois vimos que na beira do lago algo se movia: era o filhote se aproximando e se achegando à mãe, mas logo depois ele foi novamente para a margem.
Essa região toda, tanto no Yukon quanto no Alasca, é repleta de lagos e de rios, alguns bem volumosos. É uma sequência imensa de lagos piscosos alternando com o verde das florestas, o marrom das montanhas e o branco da neve. Lindo!


2/08/2011 - Terça-feira: Glennallen - Anchorage

Saímos de novo devidamente encapotados, tempo encoberto e temperatura de 13ºC. Caminho muito bonito, como sempre! Não nos cansamos de admirar! A estrada é muito bonita, pois muitas vezes muitas flores rasteiras formam um verdadeiro jardim às margens da pista: ora são cor de rosa, ora amarelas.

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Essa estrada (Glenn Highway) é considerada cênica e realmente passa por lugares especiais. Um deles é o Matanuska Valley, onde correm a geleira e o rio de mesmo nome. A geleira é imponente: ela tem 39 km de comprimento e 6,4 km de largura, e desce a montanha como se fosse um rio! É realmente impressionante você ver aquela enorme massa de gelo que, apesar da temperatura de 13ºC, ainda está lá. Qual será o volume daquela massa para se conservar 'eternamente' como gelo?
Conforme nos aproximávamos de Anchorage o aspecto geral das estradas e das construções vai ficando mais típico dos Estados Unidos a que estamos acostumados: as estradas ganham pistas duplas com saídas em trevos, áreas residenciais aparecem com alguns condomínios de pequenos prédios, além da existência de muitos shoppings (pelo menos quatro deles em menos do que dois quilômetros de estrada). Até, então, as cidades eram minúsculas e bem tipo vilarejo.

Anchorage é a maior cidade do Alasca com aproximadamente 300.000 habitantes, e também a mais importante economicamente. Mas ela só começou a se desenvolver após a II Guerra. As duas outras maiores cidades são Fairbanks e Juneau, com um pouco mais de 30.000 habitantes cada uma - vejam só a diferença!

Almoçamos num restaurante bagunçado mas com comida decente, e que nos lembrou de comentar algo interessante e estranho nessa terra: principalmente nos restaurantes 'rápidos', o comportamento normal das atendentes é: enquanto você ainda está comendo, perguntam se você quer mais alguma coisa e se a resposta é "não", colocam a conta na mesa com um comentário do tipo "tome o tempo que precisar".

Coisa mais chata! A gente acaba esquecendo, mas estamos pensando em responder que não sabemos ainda se queremos algo mais, só para manter um estado de indefinição até terminarmos de comer em paz - e se for o caso realmente podermos pensar se queremos algo mais ou não!

Fomos até o Centro para Visitantes para pedir informações. São dois prédios separados: um deles uma gracinha, de madeira, com muitas flores ao redor dele e o outro mais simples. A senhora que nos atendeu deu muitas dicas e era super interessada em fornecer informações. E nos informou, também,que a cidade nunca esteve tão cheia de turistas e isto se deve, possivelmente, à quantidade e preço dos vôos para lá, não só dos EUA mas também da Europa.

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