Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Brasil / Amazonas

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É fascinante andar pelos piers do porto e imaginar que seis meses depois tudo aquilo estará completamente seco e os barcos atracarão a mais de cinquenta metros de onde estão hoje. A estrutura desses piers é extremamente primitiva, mas quando se pensa nesse aspecto vê-se que a alternativa envolve um bocado de engenharia e tecnologia.

Depois fomos visitar o MC Almas Livres, cujos membros também haviam, através do Haroldo, oferecido alojamento na sua sede. Optamos por um hotel no centro porque com toda a confusão da quinta e da sexta-feira foi mais prático.

O pessoal todo estava ocupado nos preparativos de uma feijoada para mais de trezentas pessoas no dia seguinte, de modo que só demos um abraço neles e fomos embora. Mas conseguimos algo muito importante: um dos membros do moto-clube tem um irmão em Boa Vista/RR, e isso facilitou a novela do chip da TIM: ao invés de esperar por ele em Manaus, a Karen o enviou para Boa Vista e nós e o chip viajamos em paralelo.

07/04/2011 - Quinta-feira: Manaus

Bem, a chegada a Manaus acabou sendo também uma pequena aventura: quando o navio atracou tanto o pessoal de bordo como os carregadores do cais nos disseram que seria possível abrir um caminho ao lado dos tomates e tirar a moto.

Na ânsia de sair daquele navio pedimos que fosse feito o necessário, colocamos as malas na moto, vestimos nosso 'uniforme' e nos preparamos para o desembarque. Nesse processo consegui fazer mais uma besteira: num determinado momento deixei meu celular sobre a moto. Um minuto de desatenção foi o suficiente para que ele desaparecesse. Não dá para descrever a raiva por cometer esse erro básico, principalmente estando perfeitamente informado sobre a bandidagem que é o ambiente desse porto. Aliás, a coisa é tão feia que quando fui reclamar com o gerente do navio ele apontou para a tripulação: estavam todos agrupados do outro lado do navio, atrás da carga, e ele disse: "olhe onde está meu pessoal, eles ficam bem longe para não deixar nenhuma dúvida sobre a participação deles".

Bem, o mal estava feito, e prosseguimos com o desembarque. Primeira surpresa: o convés de carga estava quase um metro abaixo do nível do pier, e a moto não subiu por uma rampa de tábuas como eu esperava: ela foi içada 'no braço' por uns cinco ou seis estivadores. Foi impressionante e assustador ver aquela jamanta de quase 300 kg sendo levantada e colocada lá em cima!

A segunda surpresa foi que quando começamos a nos preparar para partir fomos cercados pelos estivadores solicitando seu pagamento (a conversa não era gorjeta não, era de pagamento mesmo) pelo serviço prestado. Peguei R$ 40,00 que eu já havia separado para esse momento, mas antes de conseguir estender a mão para entregar o dinheiro ao líder dos caras, ele exigiu R$ 200,00 de 'honorários'. Dissemos que não tínhamos, insistimos que o que eu só tinha aquilo. Eu pedi que a Beth achasse mais R$ 20,00 na bolsa dela, e mantivemos nossa posição de que aqueles R$ 60,00 eram tudo que tínhamos. No fim conseguimos nos livrar com esse valor. Que máfia!

Bem, finalmente a moto era 'nossa' outra vez, e saímos do porto (não sem antes pagar mais R$ 20,00 de taxa de desembarque para o próprio porto - essa devidamente reconhecida com recibo) à procura do hotel que eu havia reservado do navio. Que dia!!!


08/04/2011 - Sexta-feira: Manaus

Estamos atualizando este diário de  bordo com quase duas semanas de atraso - a correria foi grande!

Esse dia foi dedicado a atividades 'burocráticas': tínhamos que resolver a questão da reposição do chip do telefone, comprar dólares para comprar bolívares na Venezuela e eu tinha uma consulta com uma dermatologista.

No geral correu tudo bem, com exceção do chip da TIM: para reposição de chip perdidos ou roubados as operadoras usam chips 'em branco', mas que já estão com o DDD pré-codificado. A TIM de Manaus só tinha chips do Rio de Janeiro e do Maranhão, não era possível repor meu chip de São Paulo. Depois de muito esbravejar (sem sucesso) e analisar as alternativas, compramos o pré-pago mais barato que encontramos, para ter um meio de comunicação à mão. Curiosamente o pré-pago mais barato que encontramos não estava na TIM mas sim na C&A, no mesmo shopping.

Quanto ao chip original, pedimos que nossa filha Karen providenciasse um novo em São Paulo. Mas isso gerava um outro problema: quanto tempo teríamos que esperar por ele em Manaus? No dia seguinte encontramos a solução.


09-11/04/2011 - Sábado-Segunda-feira: Manaus

Já bem antes de chegar a Manaus estávamos em contato com o Haroldo, proprietário de um Maverick restaurado e como tal conhecido de forums de carros antigos do DT, namorado da Karen. O contato com ele foi estabelecido porque precisávamos de ajuda na obtenção de informações sobre Manaus,

Bem, o Haroldo e sua esposa Nazaré nos sequestraram durante toda nossa estadia em Manaus, ajudando-nos muito e mostrando um monte de coisas que ainda não conhecíamos. Nesse dia o Haroldo nos pegou no hotel e fomos passear na região do porto, ver a Feira da Panair (o nome é referencia à empresa aérea que não existe mais, mas o pessoal pronuncia como se escreve).
Dali pegamos a Nazaré e fomos almoçar um belíssimo tambaqui.A surpresa foi ouvir a pergunta: "vocês querem o lonbo ou a costela?". Nunca pensamos nesses termos para um peixe, mas curiosamente o tambaqui realmente tem essas duas partes: de um lado uma parte sem espinhas e um pouco mais gordurosa, com jeitão de 'lombo'. Ou outro lado é composto por espinhas que não merecem esse nome: são realmente costelas, grossas e longas, partindo da espinha central. E a carne é bem diferente. Mas os dois lados são muito gostosos!

Á tarde fomos passear um pouco mais. O Haroldo é Subtenente Mestre de Música da Banda do Comando Militar da Amazonia (CMA), e nos levou a ver as instalações da banda, a área do CMA, de onde se tem uma belíssima vista do RIo Negro e depois fomos a Ponta Negra, que nessa época do ano praticamente não tem nenhuma praia, pois o rio está muito cheio. Eles queriam continuar o passeio, mas pedimos para encerrar o dia, pois ainda estávamos um tanto cansados da correria dos dois dias anteriores.

O dia 10/04 foi dedicado à feijoada dos Almas Livres. Um belíssimo evento, com comida de muito boa qualidade e companhia melhor ainda. Fomos com a moto e o Haroldo com o 'Maveco', para desfilar um pouco na festa.

Tivemos oportunidade de trocar idéias com um monte de gente, particularmente sentindo um pouco melhor a abrangência e gentileza dos Bodes do Asfalto. É um grupo muito grande e muito dedicado a ajudar motociclistas e não-motociclistas - temos vivência disso em São Paulo pelo lindo trabalho que fazem junto ao ITACI - Instituto de Tratamento do Câncer Infantil.

E um dos seus membros nos deu um susto: o filho pegou a estrada para Boa Vista na sexta-feira e teve que retornar: estava interrompida por um problema no quilômetro 162. Pretendíamos seguir para Boa Vista no dia seguinte, mas essa informação nos assustou um pouco. Decidimos esperar mais um dia para ver como as coisas evoluiriam.

No caminho para o local da feijoada passamos por um parque muito bonito, e como comentamos sobre isso com a Nazaré e Haroldo, ao sair da festa fomos para lá. É realmente uma área muito bem estruturada e cuidada, formando uma moldura para o Palácio RIo Negro, antigo palácio de governo do Estado.

Passeamos pelo parque e no meio do passeio fomos surpreendidos por uma dessas coisas que sem a orientação de um local provavelmente passaria batida: a Nazaré sabia que o palácio abria às 17:00 horas para visitação. Aparentemente diversos prédios públicos praticam esse horário um tanto esdrúxulo, mas que no clima quente e úmido da cidade faz bastante sentido. Mesmo assim, é curioso isso em pleno domingo.

Ótimo, aproveitamos para visitar o palácio, que é muito bonito - aliás muitos prédios públicos históricos são muito bem conservados em Manaus - e vale a visita (guiada).

Voltamos ao parque para retornar aos veículos e de lá fomos para o hotel. Nós saímos de novo para procurar um Açaí ou sorvete para completar o dia (depois da feijoada nem pensar em comer mais alguma coisa) e demos de cara com mais um prédio público aberto (já eram mais de 20:00 horas): o Palácio da Justiça. Lá fomos nós visitar esse também, tomamos nosso sorvete e fomos dormir. Ah, mas não sem antes visitar também a Igreja de São Sebastião, que dá nome à praça do Teatro Amazonas e estava justamente entre uma missa e outra quando passamos por ela.

Havíamos decidido ficar mais um dia (11/04) em Manaus, e o Haroldo nos preparou uma oportunidade de vivenciar algo muito bonito: o ensaio da banda do CMA transformou-se num recital para nós e Nazaré. Foi muito bonito e emocionante, particularmente porque a banda tem um repertório muito eclético e é um grande prazer ouví-la tocar.

Depois do 'show' conversamos bastante com o pessoal, que vêm (típico da vida de militar) de todas as partes do Brasil e, claro, incluem alguns motociclistas ou apaixonados por motos.

Dalí seguimos para o zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) onde tivemos oportunidade de ver alguns dos animais típicos da Amazônia, incluindo duas onças pintadas, iguais à mascote do CIGS, que não deu para ver. Vimos também uma onça pintada negra: ela é preta como uma pantera, mas quando se olha com atenção consegue-se ver que ela tem as mesmas manchas da onça normal, apenas cobertas pela pelagem preta. Muito diferente!

O Haroldo nos deixou no hotel e nos despedimos da Nazaré - do Haroldo nos despediríamos no dia seguinte. À tarde conseguimos finalmente superar o 'trauma teatral': visitamos o Teatro Amazonas. Um senhor teatro, maravilhosamente preservado e restaurado. E ainda tivemos a chance de acompanhar por algum tempo o ensaio para o festival de óperas que começara no dia 26/abril.

E também conversamos com o Salvador, do Bodes do Asfalto, que nos informou que o filho havia seguindo viagem. Falamos também com a Polícia Rodoviária Federal que nos confirmou que a estrada estava aberta para passagem de um veículo por  vez. Mas estava aberta!

À noite fomos atender a um desafio: na feijoada o Ivan, membro dos Almas Livres, comentou com a Beth que não havia gostado das sardinhas de mar que comera em São Paulo ou algum outro lugar para aqueles lados. A Beth obviamente tomou as dores das 'nossas sardinhas' e disse que duvidava que as de Manaus, que havíamos visto no mercado da Panair, seriam melhores.

Pronto, foi providenciado um jantar de sardinhas assadas na casa do Haroldo para tirar a dúvida. Enchemos a cara de sardinhas muito saborosas - não interessa se melhores que as outras ou não - e com isso, além de fecharmos a parte gastronômica da visita, passamos mais algumas horas agradáveis em companhia desses novos amigos.

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