Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  África 2016

África do Sul - Kwazulu-Natal I

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Quarta-feira
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Port Elizabeth - Durban

Dessa vez não tínhamos um trajeto longo de carro, mas da mesma maneira como no Brasil ou qualquer lugar viagens aéreas acabam se tornando um pouco longas em função dos tempos nas duas pontas. Em Port Elizabeth não havia problema de deslocamento pois o aerporto fica praticamente na cidade, mas havia o tempo de devolver o carro alugado e fazer check-in. Depois de um vôo de 1h20, em Durban havia a distância do aeroporto até a cidade, que fica a uns 20 km (mas bem mais fáceis de percorrer que os 20 km de São Paulo até o aeroporto de Guarulhos).

Ao contrário dos vôos anteriores dessa vez optamos por usar os serviços de shuttle que são mencionados no site do aeroporto e oferecidos pela Internet. Mas não há necessidade de fazer reserva (talvez para horários de pico ou em dia de eventos). Funcionam muito bem: são vans para uns 16-20 passageiros, que partem aproximadamente a cada 20 minutos, e deixam o passageiro em qualquer hotel de Durban. Muito prático e bem mais barato que os transfers que se organiza com hotéis. Só apanhamos um pouco com uma característica curiosa do aeroporto de Durban, que não é muito comum, pelo menos onde já estivemos: ao se sair da área de coleta da bagagem, há uma saída para o exterior prédio do aeroporto bem à frente, e lá fora há um monte de carros parados - fácil imaginar que é para lá que se quer ir.

Engano! Esse lado é só para passageiros que são apanhados por carros particulares ou taxis contratados especifícamente para aquele(s) passageiro(s). Á area dedicada a transportes públicos fica do outro lado do terminal. E foi curioso que saímos para esse lado 'errado' e depois de não achar o que procurávamos voltamos para dentro do terminal à procura do balcão de informações. Até consultamos a pessoa no balcão, mas foi só para 'cumprir tabela': logo na entrada do terminal havia uma placa indicando "Public Transportation". Foi só seguir as placas...

Ah, observem lá em cima na página o nome da província onde fica Durban: mais uma vez os portugueses deixando seu legado. Eles batizaram essa região de Natal, pois Bartolomeu Dias chegou à região no Natal, e os sul-africanos preservaram esse nome na sua organização política do país.

Nosso hotel em Durban fica de frente para a praia - como é muito comum por aqui isso não quer dizer na praia: há uma avenida de pista dupla na frente do hotel e no caso de Durban um enorme calçadão de no mínimo 30-40 metros de largura do lado da praia. E em frente ao hotel ainda há uma mata separando o calçadão da areia.

Quando perguntamos sobre Durban recebemos a informação de que as praias não ficam na cidade e sim mais a leste - a mais famosa é a de Umhlanga. Por ser inverno optamos por ficar na cidade, onde acreditávamos haveria mais para ver e fazer. A surpresa foi que apesar de provavelmente não tão bonitas, e pelo menos em parte (por exemplo, em frente ao hotel) com proibição de nadar, as praias da cidade são bem bonitas, e muito extensas: devem ser uns bons três quilômetros de uma ponta a outra.

Passeamos um pouco pela orla, e como não havíamos almoçado e não havia muitas opções de restaurantes realmente perto do hotel decidimos reservar uma mesa no restaurante do hotel. Não costumamos mencionar por nome os locais onde fazemos refeições ou nos hospedamos, mas para esse quebraremos esse costume: o Café Jiran foi uma agradabilíssima surpresa.

Nosso jantar foi uma enorme salada de halloumi (um queijo de origem cipriota que lembra um pouco o nosso coalho, e que foi preparado de forma análoga: grelhado) com folhas e outros vegetais seguida de uma perna de carneiro. Essa é nossa refeição 'padrão': uma salada e um prato que dividimos entre os dois.

Os dois pratos estavam muito bem preparados (não somos gourmets, para esses poderia haver uma série de defeitos, mas para nós estavam muito bons) e foram acompanhados por um par de agradáveis mimos: duas fatias de um delicioso pão que parecia de centeio mas tinha casca e consistência de pão italiano acompanhadas por três tipos de pastas: tomate, pimentão e uma terceira que não lembramos o que era. E entre a salada e o cordeiro ganhamos um pequeno sorbet de abacaxi para neutralizar o paladar em preparação para o prato principal.

Eu tomei um cálice de vinho e um espresso duplo para completar - a Beth não bebeu nada.

A grande surpresa: tudo isso custou, com gorjeta, US$ 20!!! Tudo bem, já descobrimos que na África do Sul come-se bem e barato, mas nesse caso esse custo foi valorizado pela qualidade da comida, pelos pequenos detalhes mencionados acima e por um serviço bastante atencioso. Um belo fecho para o dia!


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Quinta e sexta-feira
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Durban

Não tínhamos muitos planos para Durban, então primeiro compramos um bilhete diário do Peple Mover para andar pela cidade. Esse People Mover é um conjunto de três linhas de ônibus que cobrem bastante bem a parte mais central da cidade. Cada linha circula de 15 em 15 minutos, e as três linhas se cruzam permitindo trocar de uma para outra.

Fomos para o centro à procura de um museu que conta a história de Durban (Kwa Muhle Museum). Acabamos descendo do ônibus perto de outro museu, graças à dificuldade de comunicação com o motorista: o inglês dos negros africanos com menos educação é bastante fraco, e aparentemente eles têm dificuldade de entender inglês de estrangeiros, principalmente quando o estrangeiro não é nativo da língua. Ah, e vamos piorar isso com minhas tentativas de pronunciar o nome do museu.

Depois de umas duas ou três tentativas o motorista desistiu e nos 'despachou' no museu que ele conhecia! Também foi interessante, e não comprometeu a programação. Dali decidimos ir ao uShaka Marine World, um enorme complexo de lazer em torno do tema água: apenas uma das partes é um Wet'n Wild, depois há um enorme aquário (Sea World) incluindo shows com golfinhos, área de recreação e lazer para crianças, uma área com répteis venenosos e uma tirolesa. É o legal é que se pode comprar entrada para cada uma dessas atrações em separado.

Não entramos, até porque outra coisa legal em comparação com lugares similares nos EUA é que há uma grande galeria com lojas e restaurantes fora do complexo, de modo que dependendo do que você procura encontra satisfatoriamente do lado de fora.

Procuramos um restaurante para almoçar e, completamente por acaso, escolhemos um restaurante típico africano. E aí aplicamos o dito "saiu na chuva é prá se molhar": comemos borboletas... Não, antes que alguém fique chocado pela idéia, não foi a borboleta mas sim sua larva, conhecida como Mopane Worm.

Se você procurar esse termpo na Internet encontrará comentários classificando as tais lagartas de iguaria. Bem, ou não sabemos apreciar essas coisas ou a nossa estava muito mal preparada! Não que seja ruim, mas não vimos absolutamente nada de especial. Ainda mais que as danadas estavam bem apimentadas, de modo que com o tempero combinado com o molho que acompanha, sobrava pouca oportunidade de identificar o sabor da lagarta.

O prato principal foi um ensopado de avestruz, esse sim delicioso. Não nos aventuramos nos 'botecos' de rua, mas em restaurantes o que temos visto é que a maioria dos pratos são carnes de animais nativos preparadas de forma totalmente convencional para padrões europeus. Saborosos porque muitas dessas carnes o são, mas não chegam a ser algo realmente especial.

Na sexta-feira começamos caminhando pelo calçadão da praia até o cassino que fica a uns 200-300 metros do hotel. Esperávamos algo à la Las Vegas ou em estilo europeu de cassinos, e fomos surpreendidos por um estilo de construção muito típico de Miami Beach: parecia um prédio construído nos anos '50, mas muito bem conservado e equipado. Fomos perguntar e ficamos sabendo que ele foi propositalmente construído nesse estilo, em 2002. Interessante...

Dali fomos andando em direção ao estádio Moses Mabhida, construído para a Copa do Mundo de 2010. E pode até ter sido construído com níveis de corrupção comparáveis aos do Brasil (simplesmente não sabemos) mas pelo menos é muito bem usado: além das atividades esportivas normais que se espera num estádio de futebol, o arco por cima do estádio é uma atração por si só. É possível subir até o topo a pé ou num carrinho para ter uma belíssima vista de Durban, e além disso ele oferece um 'bungee jump' muito especial: ao invés de mergulhar na vertical a partir do topo, o aventureiro salta de um dos lados do arco e descreve um arco ao longo do estádio, de uma ponta à outra do campo. O site oficial do estádio (clique aqui) mostra um vídeo desse salto. Muito legal!

E aí resolvemos deixar um pouco de lado a paranóia de segurança que nos tem limitado até agora e fomos para o centro da cidade. Primeiro fomos explorar um pouco o lado do porto da cidade. Eles fizeram uma coisa bastante bem bolada: em uma enseada no lado sul da cidade a margem junto à cidade é reservada a marinas e ancoradouro de barcos de turismo. O porto fica do outro lado, sem atrapalhar o movimento da cidade.

De lá fomos caminhando para a Victoria Street, que fica no meio do bairro hindú de Durban. Fomos de câmera pendurada no pescoço, sem a menor tentativa de esconder o caráter de turistas. A sensação de insegurança é inevitável: caminhamos durante mais ou menos dois quilômetros e por uma hora sem ver um único branco além de nós. E não venham nos chamar de racistas: não tem nada a ver com isso! Da mesma forma como no Brasil os negros constituem a camada mais pobre e desprovida da população, e como tais é entre eles que estão os mais altos índices de criminalidade.

A diferença é que aqui a população negra/mulata/hindú é maioria absoluta (brancos são pouco mais de 15%), de forma que é quase inevitável você se sentir um estranho no ninho! Mas ao mesmo tempo essas preocupações de segurança podem ser no mínimo exageradas: lemos em algum lugar que justamente turistas são poupados porque a polícia reage muito mais fortemente a crimes contra turistas que contra locais.

Voltando à questão da pobreza, as favelas daqui são iguais às piores que se pode ver no Brasil: barracos de madeira e folhas de metal, tijolo/alvenaria são praticamente inexistentes! A seregação racial pode ter sido eliminada (pelo menos formalmente) mas a segregação econômica é muito evidente.

No mercado de Victoria Street (não fizemos praticamente nenhuma foto nessa área porque tendemos a crer que chega a ser ofensivo um turista nitidamente melhor de vida ficar fotografando a pitoresca miséria) encontramos uma lojinha onde compramos dois adesivos de países para a moto e aproveitamos para falar inglês com alguém que nos entendia e que entendíamos: um senhor hindú. Ele inclusive nos indicou onde fica o ponto do ônibus que nos levaria para a próxima parada: o museu que queríamos ter visitado ontem.

Lá fomos nós, descemos no ponto certo mas tivemos que rodar um pouco e perguntar em outro museu. O problema é que apesar do Kwa Muhle ter uma fachada muito característica, impossível de não reconhecer, essa fachada não é voltada para a rua principal onde descemos do ônibus. Bom, encontramos o museu e... está fechado para reformas! Que coisa, vamos a Manaus e o Teatro está fechado, vamos a Durban e o museu está fechado. E não lembramos exatamente onde, mas já enfrentamos isso eu outros lugares. E ainda por cima ele reabre na segunda-feira! Erramos por três dias.

Bem, nada a fazer, era fim de tarde e resolvemos voltar para o hotel. O ponto de ônibus ficava ao lado de um imenso complexo municipal de atendimento ao cidadão. Estamos ali plantados esperando quando uma senhora vem nos perguntar onde fica o prédio de serviços de eletricidade. Não sei se isso acontece muito com outras pessoas, mas a lista de cidades onde fomos abordados com pedidos de ajuda local (não de outros turistas, locais mesmo!) é bem extensa. E, claro, sempre somos obrigados a explicar que não somos locais. Mas dessa vez, pela primeira vez pudemos ajudar: havíamos visto um placar com um mapa do complexo, e levamos a mulher até lá. E lá estava o prédio da eletricidade. Oba, uma vez deu certo!!!

Fim de dia trabalhando um pouco no site e jantando pela segunda vez no Café Jiran - e novamente comemos muito bem e barato.

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