Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Venezuela / Sucre a Mérida

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Nesta página não detalharemos os estados porque estamos somente atravessando diversos deles com o objetivo de chegar a Mérida. Serão dois ou três dias de deslocamento.


27/04/2011 - Quarta-feira: Cumaná - Valencia

Foi um dia exclusivamente de viagem: 9h50 para percorrer 567 quilômetros. As duas primeiras horas e mais um pouco foram muito ruins: a mesma estrada que percorremos na segunda-feira até que estava boa hoje, pois não chovia e o tráfego, no nosso sentido, era bem leve. Mas quando chegamos a Puerto la Cruz e atravessamos essa cidade e depois Barcelona (elas são emendadas uma na outra) foi horrível. Levamos aproximadamente uma hora para andar 25 quilômetros.

E o mais irritante é que de vez em quando aparecia uma placa dizendo algo como "Desvio para Caracas", só que nunca havia uma seta ou outra indicação do que se devia fazer a respeito. Quando finalmente saímos de Barcelona realmente entramos numa pista expressa que podia ser o tal desvio, mas não fazemos idéia de como deveríamos tê-lo pegado.

Daí para a frente a estrada é boa (parcialmente pista simples mas larga e boa parte pista dupla) até Caracas. Só tomamos um belo susto num trecho da pista simples: sabem quando o asfalto é fresado só numa das faixas e fica aquele degrau de uns cinco centímetros ao longo da estrada? Pois é, havia isso mas não entre as pistas mas sim mais ou menos no meio da nossa faixa.

Era uma curva leve e não consegui evitar cair para o lado fresado. E o pior é que a divisão não era uniforme, ela alargava e estreitava. Eu estava vendo o degrau me empurrar para a faixa de sentido contrário e não conseguia voltar porque a roda estava paralela e grudada no degrau. Foi um susto e tanto, faltando bem pouco para virar um chão.

Atravessar Caracas é bem desagradável, pois mesmo às 15h as autopistas estão todas entupidas de carros, e o trânsito avança em passo de tartaruga; Nós tínhamos a esperança de encontrar um posto ou outro lugar para parar e pedir informações mas nada.

Aí fomos salvos por nosso anjo rodoviário: decidimos parar numa zebra onde havia dois policiais cuidando de um taxi também parado ali. Pedimos ajuda a eles e foram muito gentis, sugeriram que seguíssemos até Maracay ou Valencia, onde encontraríamos hotéis mais baratos além de ser mais fácil chegar até eles.

E a saída para Maracay ficava a mais ou menos um quilômetro de onde estávamos: paramos na hora mais que certa. Pegamos essa estrada que realmente é muito boa, permitindo velocidade de 100 km/h ou mais. Mas... quando nos aproximamos de Maracay começou a chover. Na hora que chegamos à saída para a cidade chovia torrencialmente, e o trânsito na saída completamente parado! Coisa de São Paulo nos seus piores dias.

Decidimos não ficar parados no trânsito tomando chuva e tocamos para Valencia, 35 km adiante. Não foi uma decisão totalmente errada, pois deu tempo de quase secarmos ao vento, mas quando chegamos a Valencia vimos de forma mais violenta o que já víramos em Maracay: essas cidades ficam a mais de 100 km de Caracas, mas o congestionamento de fim de dia é pior que os de São Paulo. No Brasil não existe cidade a 100 km da capital (seja em que estado for) com um trânsito como esse.

Resultado: levamos aproximadamente uma hora para achar um hotel, contando com ajuda de outros 'participantes' do congestionamento: deu tempo de perguntar ao motorista de uma picape e ele nos indicou onde sair da via expressa e entrar na cidade. Aí foi fácil.

Agora estamos finalizando este texto para subí-lo durante a noite - esperamos que funcione. E não vamos jantar graças a nosso curioso cardápio de hoje: no hotel em Camaná tivemos o primeiro café da manhã realmente bom na Venezuela, e estávamos muito bem alimentados. Porém, quando paramos para descansar em Piritu ficamos curiosos com algo que o restaurante ofercia e pedimos uma cachapa com queso. É uma espécie de panqueca americana (aquelas grossas) só que com massa de curau de milho. Essa massa é assada na chapa e depois recebe uma camada de uns bons 5 milímetros de queijo derretido, muito saboroso.
A combinação é bem gostosa (nem tanto para quem não aprecia muito milho, mas mesmo assim é boa) só que é uma refeição. Três horas depois do café da manhã comer a cachapa acabou com nossa fome pelo resto do dia. Só tomamos um café com biscoitos na última parada e agora estamos prontos para dormir.


28/04/2011 - Quinta-feira: Valencia - Barinas
Mais um dia basicamente de viagem, apesar de mais tranquilo que ontem: às 15h10 estávamos em Barinas, parando no hotel.

Antes de sair de Valencia fizemos nosso 'plano de viagem': perguntas a locais, uma olhada no mapa que temos no micro e construímos, num pedaço qualquer de papel, uma lista de nomes das cidades por onde devemos passar - esse é nosso 'mapa' para cada trecho da viagem.

O primeiro trecho, até San Carlos, foi relativamente lento devido ao tráfego e à estrada de pista simples. Mais uma constatação que diferencia a Venezuela de outros lugares que conhecemos: aqui os carros atrapalham os caminhões! É verdade, volta e meia aparece um carro muito mais devagar que os caminhões.

Na parada para descanso em San Carlos vivenciamos mais uma vez uma característica do venezuelano: aqui você só não conversa com os locais se não quiser. Qualquer situação é oportunidade para eles puxarem conversa, perguntarem sobre a gente, dar sugestões e conselhos sobre o próximo trecho, enfim, muito simpáticos e prestativos.

O resto da viagem foi muito tranquilo, totalmente em auto-estrada. Eu não estava mais acostumado com essa moleza: a facilidade junto com o barulho do vento no capacete provocaram muito sono!

Em Barinas tivemos um problema que é relativamente fácil de resolver por aqui: não tínhamos mais dinheiro (venezuelano). Explicamos ao recepcionista do hotel, ele ligou para alguém, outro funcionário foi até a padaria ao lado e voltou dizendo que lá comprariam nossos dólares.

Pronto, estamos reabastecidos por uns dias. Temos trocado sistematicamente a Bsf 8 / US$. Não é o melhor cambio que se poderia obter, mas pelo menos desse jeito podemos ir trocando, sem grandes dificuldades, conforme precisamos.

Ah, outra preocupação: só encontramos um barco para nos levar de Cartagena ao Panamá para o dia 14/05. Não esperávamos ter que esperar tanto tempo, principalmente porque a Colômbia está com muitos problemas nas estradas andinas, e fica difícil bolar um plano de viagem para preencher esse tempo. Vamos pensar com mais calma nisso em Mérida - hoje estamos sem Internet e nem dá para fazer qualquer pesquisa nesse sentido.

Assim passou mais um dia. Amanhã completaremos os últimos 135 km até Mérida. Boa noite!


29/04/2011 - Sexta-feira: Barinas - Mérida

Grande mudança: pode ser que hoje puxemos o cobertor para dormir: depois de sessenta dias lutando com aparelhos de ar condicionado barulhentos e mal posicionados (soprando diretamente em cima da cama) porque sem eles era muito difícil dormir, estamos numa temperatura suficientemente baixa para pensar em usar o cobertor.

Mas antes disso fizemos uma viagem que deu para dar uma arredondada nos pneus: foi a primeira serra de verdade da viagem. A estrada é uma Serra do Rio do Rastro, tanto em largura com em variedade e tipo de curvas. Também os precipícios e as proteções laterais baixas são similares - as proteções aqui são até mais preocupantes que as da SRR. E o tráfego também é parecido: caminhões e ônibus, sendo que os ônibus são essas coisas típicas daqui.

Mas há algumas diferenças: sua extensão (até Mérida, não sei como continua) é de 135 km. Isso mesmo, 135 km. de curvas. Durante esse trajeto ela sobe até quase 4.000 metros de altitude para descer aos 1.600 onde fica Mérida.
Ao longo desses 135 km há um número razoável de desbarrancamentos, o mais feio deles levou quase a estrada toda. E a variedade de cenários também, pois nesse sobre e desce a estrada entra e sai de vales lindos, que poderiam muito bem estar nos Alpes. Infelizmente a estrada estreita, com tráfego bem pesado, impediu fotos realmente boas: éramos obrigados a fotografar em movimento, e não deu muito certo.

Foi de longe o trecho mais lento da viagem (4h40 para 165 quilômetros), mas mesmo assim um dos mais prazerosos. É uma estrada realmente linda, contando inclusive com alguns vilarejos com hotéis de nível muito bom.
Se tivéssemos sabido disso não teríamos parado em Barinas: com mais duas horas de viagem teríamos chegado a Santo Domingo, onde começa a série de povoados com opções interessantes de hospedagem. Certamente teria tornado essa sequencia de dias bem mais agradável.

Aliás tentar acompanhar o nome desses vilarejos é uma tarefa impossível: muitas vezes víamos uma placa com um nome e na curva seguinte já aparecia outra placa. Como é que é isso? Um vilarejo composto por seis casas?
Outra coisa totalmente inesperada foi a quantidade de locais que anunciavam café moído lá mesmo. Na realidade eram casas onde torravam e moíam o café colhido em pequenas plantações ao longo da estrada. Parece que o café colombiano 'contaminou' essa região da Venezuela - encontramos um pé de café até mesmo em pleno centro de Mérida.

Esses detalhes todos realmente faziam pensar em estâncias turísticas de montanha, e conforme avançávamos mais pensávamos que encontraríamos uma Campos do Jordão ou Gramado em Mérida.

Que decepção!!! Amanhã vamos ver se há algo mais interessante, mas o que vimos hoje da cidade é a mesma sujeira, pobreza arquitetônica e trânsito caótico de resto da Venezuela.
Até o momento nossa impressão é que o estado de Mérida é muito bonito, sua capital totalmente dispensável do ponto de vista turístico.

E para completar, o que poderia ser um programa interessantíssimo está paralizado há três anos: aqui há um teleférico de 12,5 quilômetros de extensão, que sobe até mais de 4.000 de altitude. Infelizmente também não será possível curtir essa opção. Mas pelo menos almoçamos uma besíssima truta na manteiga - truta é o que não falta por aqui.

Mas vamos esperar até amanhã para ver se nossa opinião muda. Por enquanto vamos dormir com a cabeça no pé da cama: acabamos de descobrir uns pregos soltos no estrado, e optamos por dormir desse jeito e deixar as reclamações para amanhã.

Quase íamos esquecendo: dos muitos carros que nos 'seguraram' ao longo dessa estrada, o último, na chegada a Mérida era... uma Brasília! Vimos muitos Corcel II e algumas Brasílias entre as velharias daqui.
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