Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  África 2016

Namíbia - Primeiros dias

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Terça-feira
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Johannesburg - Mariental (NA)

Nos despedimos de Johannesburg com a sensação ambígua descrita na página anterior, e ainda fomos agraciados com uma informação interessante no percurso para o aeroporto: o mesmo Jeffrey que nos trouxe nos levou, um motorista que aparentemente vive de transfers do aeroporto e de ciceronear estrangeiros pela cidade (não o usamos para isso).

Johannesburg é uma cidade que foi criada em função da exploração de ouro, e espalhados por toda a cidade há montes de terra, de uns 15-20 m. altura, que na realidade são dejetos das minas de ouro. Esse material ainda contém ouro, mas em quantidades que não era rentável extrair. Não era! Hoje em dia existe tecnologia para fazer isso, e os 'morrinhos' estão desaparecendo pois estão sendo reprocessados para extrair o ouro restante.

Sabe-se lá que cara terá a cidade daqui a alguns anos quando esses montes de dejetos mineiros tiverem desaparecido!

Jeffrey nos deixou no aeroporto, onde os procedimentos correram de forma normal. A única curiosidade é que a passagem que compramos é British Airways, os aviões são pintados como British Airways, mas são operados por uma companhia local, chamada Comair. Partida e chegada no horário, 'ganhando' uma hora pela diferença no fuso horário.

A Namíbia é um pais muito pobre, e a percepção disso começa pelo aeroporto internacional da capital do país: ele é (bem) menor que o Santos Dumont no Rio de Janeiro. Realmente pequeno! Mas conseguimos trocar dinheiro por um câmbio razoável, pegamos o carro de aluguel e partimos para a primeira parada, que seria exclusivamente de pernoite, pois o primeiro destino verdadeiramente turístico ficava muito longe para se chegar no mesmo dia.

E logo nos primeiros quilômetros da viagem de carro fomos apresentados ao que parece ser o tema prinicipal da África (pelo menos do sul da África): animais. A beira da estrada para Windhoek estava cheia de babuínos. Não sabemos se a macacada é atraída por comida atirada pelos motoristas ou pela urbanização em torno da capital, que lhes permite encontrar comida nas casas, mas impressionou a quantidade dos bichos ao longo da estrada.

Viajar na Namíbia é uma experiência que tem que ser planejado com um pouco de cuidado: de norte a sul do país corre uma estrada asfaltada, com algumas poucas estradas laterais também asfaltadas - as estradas identificadas como 'B'. Mas a maioria absoluta das estradas (C e D) é de terra batida, com areia ou cascalho.

Isso é um detalhe importante a considerar, pois as médias de velocidade são afetadas por essas estradas de terra. Na verdade descobrimos depois que não é tão ruim assim! Por falar em  velocidade, as estradas asfaltadas são pista simples, com apenas um faixa de rolamento em cada sentido, às vezes sem acostamento ou com acostamento em terra com um certo desnível em relação ao asfalto, e velocidade máxima de 120 km/h!!! Parece bastante alta para uma estrada com essas características, mas é perfeitamente viável por duas razões: praticamente não há curvas... nem veículos! O tráfego é muito esparso, e na maioria absoluta do percurso a estrada era só nossa.

O que fazemos é reduzir um pouco a velocidade ao cruzar com outro veículo, pois com a mão inglesa de direção (toda a África e Ásia - e Austrála, e Nova Zelândia - são assim) havia um pouco de insegurança no posicionamento do carro na faixa, e no restante mandar ver no limite permitido. E nas estradas de terra é necessário reduzir a velocidade toda vez que se cruza com outro veículo: a nuvem de poeira reduz a visibilidade a praticamente zero. Ainda bem que se cruza com poucos veículos...

Essa primeira parada foi numa fazenda de plantação de milho e trigo, que oferece também um camping e um Bed & Breakfast (B&B). Como dissemos, foi uma escolha exclusivamente para poder parar ainda com luz do dia ou no máximo logo depois do anoitecer (foi o que aconteceu), mas a escolha se revelou uma agradabilíssima surpresa: um quarto muito confortável, com um delicioso chuveiro e um excelente café da manhã. Os proprietários são descendentes de holandeses imigrados (boers) e tiveram muito bom gosto na decoração tanto dos quartos como do salão de café da manhã..

No caminho paramos num supermercado para comprar alguma coisa para comer à noite, e logo fomos 'apresentados' à pobreza do país: pelo menos 5-6 crianças pelo estacionamento pedindo esmolas ou comida. Compramos uma maçã e um biscoito para um deles que ficou junto ao carro, e seguimos viagem.

Está escurecendo bastante cedo por aqui, e às 17h45, quando chegamos ao destino já estava escuro. As placas indicativas na estrada e no acesso eram claras, mas como o acesso era em terra, não foi muito fácil encontrá-lo no escuro. Passamos pela saída e tivemos que retornar para achá-la.

Estávamos bastante cansados, e depois de um bom banho e de devorar os sanduíches feitos com as compras da tarde, encerramos o dia. Nem fizemos o chá (ou café) que é oferecido em todos o quartos de hotel até agora.



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Uma curiosidade que percebemos na embalagem do iogurte que compramos: as informações nutricionais em inglês e português.

E o mesmo aparecia em diversos produtos no supermercado. Explicação: a Namíbia exporta produtos para Angola! E é um país pobre. Ficamos nos perguntando como é Angola...

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Quarta-feira
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Mariental - Fish River Canyon

Hoje, depois do excelente café da manhã do Bastion Farmyard, partimos para o que deveria ser uma jornada um pouco longa mas sem grandes problemas. Infelizmente conseguimos complicá-la e torná-la um tanto tensa: um alemão que estava no café da manhã conosco nos convenceu a sair do asfalto e pegar uma estrada secundária "pela beleza natural que ela oferece". Eu (Heinz) esqueci completamente do planejamento cuidadosamente feito antes da viagem, e embarcamos de cabeça na sugestão.

A primeira descoberta é que a paisagem não tinha nada de significativamente diferente do que se via do asfalto. Depois, claro, a velocidade caiu. E aqui começou a primeira surpresa: depois de alguma adaptação, conseguíamos manter confortavelmente 70-80 km/h na estrada de terra. Bem batida, pouca areia (mais cascalho), nenhum buraco, enfim uma estrada normal, só que sem asfalto. Tanto que a velocidade máxima nessas estradas é 100 km/h!

E acabamos acrescentando quase 200 km. a um percurso que já, era originalmente, de 400 km. (pelo menos metade em terra). Para completar, num determinado momento, depois de quase 300 km. rodados, nosso GPS dizia que ainda faltavam 410 km. Deu um belo frio na barriga: com essa quilometragem teríamos que dirigir no mínimo umas duas horas no escuro em estradas de terra numa região remota da Namíbia.

Mas alguma coisa nessa conta não estava certa, e olhando o mapa que pegamos no B&B não dava 400 km. de jeito nenhum. Só no dia seguinte fomos descobrir a causa da discrepância: o GPS estava programado para evitar estradas não pavimentadas. Ora, isso é simplesmente impossível na Namíbia, e ele estava fazendo as voltas mais malucas para minimizar os trechos em terra.

Mas, como não tínhamos certeza e estávamos bastante preocupados, só paramos para abastecer e ir ao banheiro. E chegamos ao nosso destino alguns minutos antes de escurecer completamente. Ainda bem, pois os últimos cem quilômetros foram em estradas cada vez mais precárias, que teriam sido uma verdadeira tortura à noite.

Um comentário: em algum lugar durante a preparação da viagem estava escrito que aqui é muito importante se ter um mapa, mesmo que se tenha GPS. Ficamos extremamente gratos a Salomé, proprietária do Bastion Farmyard, por ter nos enfiado o mapa nas mãos - havíamos esquecido completamente essa recomendação. Sem dúvida nenhuma, andar por aqui sem um mapa aumenta muito o nível de tensão!

Outro detalhe que rapidamente fica claro: deslocamentos rodoviários na Namíbia têm que ser planejados em torno de três fatores fundamentais:
- Combustível;
- Alimentação;
- Banheiros.
E a coisa é muito simples: entre uma cidade e outra (e podemos estar falando de mais de 300 km) não existe nenhum dos três. Absolutamente NADA! Combustível, pelo menos no sul, só será problema se se fizer alguma grande besteira: pelo menos a cada 300 km sempre se encontra um posto. Alimentação, o melhor é comprar alguma coisa no supermercado e fazer 'lanchinho' até chegar ao destino. E banheiro... Bem, as estradas são tão desertas, que dá para resolver o problema na beira da estrada sem ser incomodado por ninguém! E é mesmo o jeito, pois quem aguenta cinco a seis horas sem alternativa?

Ainda mais que no calor e secura do ambiente manter-se hidratado é muito importante!

Em resumo, esse dia foi de viagem praticamente ininterrupta das 10h00 às 17:30. Chegamos ao hotel (muito bom, acima da nossa média, mas só há ele e outro mais caro ainda perto do Canyon) tão cansados e famintos que só comemos assim que o restaurante abriu, tomamos um banho e caímos na cama.

O jantar foi bastante bom, com opções como Goulasch de Springbock, uma variedade de antílope daqui. Tentamos acesso à Internet mas nada feito: apesar do luxo e do preço não conseguiram resolver essa parte do serviço. E televisão também não faz parte dos recursos oferecidos pelo hotel.

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