Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  África 2016

São Paulo - Johannesburg

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Segunda-feira
: São Paulo -
Lisboa

É bem possível que você esteja se perguntando que idéia maluca foi essa de ir para a África do Sul via Lisboa. Não sabemos se a explicação é suficientemente lógica ou racional , mas os motivos que levaram a isso foram:
  1. Queríamos desde o começo terminar essa viagem visitando os filhos na Inglaterra e Alemanha, portanto vamos para a Europa de qualquer maneira.
  2. Não foi fácil encontrar uma sequência de passagens aéreas a preço interessante começando pela África do Sul, ainda mais que...
  3. Tínhamos um bom número de milhas para gastar na TAP, e com elas viabilizamos o upgrade para classe executiva nos dois únicos vôos noturnos de toda a viagem - para quem tem 1,90m. de altura a diferença entre dormir e não dormir.
  4. Os preços da Emirates são muito bons, com a vantagem de que conseguimos voar de dia, dormindo em Dubai entre vôos - uma noite numa cama de verdade, com um banho de chuveiro antes e um bom café da manhã depois.
Enfim, não tem muita graça em apenas cinco dias passar uma noite e dois dias dentro de aviões, mas foi o que decidimos fazer, certo ou errado.

Aliás vamos aproveitar para contar sobre o tratamento da TAP a seus passageiros: nossa viagem original era a partir de Viracopos, às 22:45. Pouco depois de fazermos a reserva o horário foi alterado para 17:15 ou coisa parecida, o que já foi desagradável: esses vôos muito cedo dificultam o aproveitamento para dormir, pois quando o sono vem de verdade mais de metade da viagem já se passou.

Mas a melhor parte veio depois: sem nenhum aviso, o vôo foi alterado para Guarulhos, às 15:45 (o vôo de Viracopos não existe mais: foi substituído pelo da Azul, que tem o mesmo dono que a TAP). Só descobri porque fui tirar uma dúvida sobre a reserva no site da TAP. E reclamações foram tratadas de forma burocrática, sem o menor esforço de oferecer alternativas viáveis: era simplesmente impossível mudar para outro vôo mantendo o upgrade.

E aí, de repente, numa tentativa sem muita razão ou esperança, uma semana antes da partida conseguimos alterar a reserva para o vôo noturno do dia 06/06, mantendo o upgrade. Vá se entender a lógica dessas companhias aéreas.

Isso acabou tornando esse trecho inicial da viagem mais agradável: viajamos no horário desejado, para o qual faz realmente sentido viajar numa classe de cabine mais cara, e teremos praticamente 48 horas em Lisboa para descansar e partir para as duas pernas adicionais: Dubai - Johannesburg.

Esse primeiro trecho foi 'normal': vôo tranquilo após um pouco de turbulência na partida (o tempo em São Paulo estava ruim). Só um lance divertido na chegada: o aeroporto de Lisboa é muiito estranho, pois não tem recursos para receber aviões de grande porte nos fingers (aqueles 'tubos' que conectam o avião ao prédio do terminal). Portanto todos os vôos internacionais de longa distância são atendidos por ônibus. Da mesma forma que no embarque, o pessoal da TAP fez questão que os passageiros da classe executiva desembarcassem por uma porta separada para tomar um ônibus reservado para esse grupo.

O problema é que o manobrista da escada não acertava o alinhamento dela com a porta do avião de jeito nenhum. Resultado: os 'privilegiados' passageiros da executiva foram os últimos a descer do avião: não passou pela cabeça da tripulação fazer o desembarque pela mesma porta que a classe econômica. Ridículo...


07-08
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Terça e quarta-feira
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Lisboa

Entre espera pela escada, imigração, coleta de malas e metrô chegamos ao hotel lá pelas 13h30. Depois de nos instalarmos fomos cuidar de diversos detalhes burocráticos e operacionais (como carregar nossos celulares portugueses, principalmente para ter Internet) e tentar comprar capacetes e roupas para a Beth (os que ela tem estão definitivamente 'fora do prazo de validade'). Infelizmente não conseguimos encontrar o que procurávamos: estamos acostumados com verdadeiros supermercados motociclísticos na Alemanha, e a oferta em Portugal é muito mais limitada. Vamos tentar novamente na África do Sul.


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Hoje, dia 08, quase perdemos o café da manhã: acordamos às 9:40. Vergonha...

Só saímos do hotel lá pelas 13h30 (afinal estamos aqui para descansar e não fazer turismo) e fomos visitar o Museu Nacional dos Coches (afinal, se não fizer turismo vai fazer o quê? ;-)) ). Depois de um almojantar e uma perambulação ao longo das margens do Tejo encerramos o dia.

Amanhã embarcamos para Dubai. Até sábado de manhã ou estaremos dentro de aviões ou dormindo. Voltamos ao ar de Johannesburg.


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Quinta e sexta-feira
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Lisboa - Dubai - Johannesburg

Surpresa! Ói nóis aqui! Tivemos sorte duas vezes: o vôo para Dubai está vazio, e pudemos nos espalhar nas quatro poltronas do meio, com lugar sobrando! E, ao contrário do que dizia o site de avaliação Seat Guru (www.seatguru.com), as poltronas da classe econômica têm tomadas para ligar equipamentos elétricos.

Ooops, segunda surpresa: as tomadas não têm capacidade para o notebook - dá prá conectar e carregar celular e iPad, mas quando se conecta o notebook o sistema do avião corta a corrente da tomada. Então vamos embora de novo prá não ficar sem bateria - sabe-se lá se e como será necessário usar o notebook.

Pronto. novamente escrevendo a bordo, dessa vez no trecho Dubai - Johannesburg. Pelo jeito aqui a tomada é mais 'fortinha' e aguenta o notebook. E novamente estamos num avião com uns 70-75% de poltronas vazias, com uma fileira de quatro só para nós e até com outra atrás de nós se quisermos deitar (até que alguém tenha a mesma idéia...).

Já que a viagem Lisboa - Johannesburg com Emirates é composta por dois trechos, ambos com aproximadamente 8 horas de duração, optamos por fazer uma escala longa (13 horas) em Dubai para dormir decentemente numa cama de hotel. A idéia ainda parece boa, mas a execução não foi tanto assim: primeiro desembarcamos com ônibus (não havia fingers disponíveis no terminal) e depois ainda tivemos que esperar uns 25 minutos pelo ônibus do hotel - optamos por um Holiday Inn próximo mas fora do aeroporto, que é, com café da manhã, uns US$ 120 mais barato que o hotel dentro do aeroporto sem café da manhã.

Com esses atrasos todos acabamos indo dormir às 3h00 da madrugada (chegamos à 1h00), querendo acordar às 9h30 para pegar o café da manhã. Foi uma noite bem curta, mas deu para descansar um pouco e principalmente ficar um pouco na horizontal.

Um lance interessante ocorreu nesse vôo de Lisboa: estamos voando no período sagrado do Ramadan, que obriga os muçulmanos a jejum absoluto (nem água) desde o nascer até o por do sol. Num determinado momento o comandante se manifestou para informar passageiros que porventura estivessem respeitando o Ramadan que o sol havia se posto e o jejum estava terminado para aquele dia.

Retomando a história propriamente dita, acordamos a tempo de descer (quinze minutos antes do horário limite) para o café da manhã, e ao entrar no salão estranhamos um pouco o aviso da recepcionista de que o café da manhã terminava às 10h00. Muito simples: pontualmente nessa hora levaram tudo embora: em dez minutos o buffet estava vazio. Ainda bem que desconfiamos que era isso que ia acontecer e pegamos tudo que queríamos antes de sentar!

O destaque dessa parte da viagem foi o aeroporto de Dubai: ele é tão imenso que, apesar de ser o segundo aeroporto mais movimentado do mundo, parece vazio. Não se vê filas nem aglomerações, pois é tudo muito grande e espalhado. Um senhor aeroporto!

E agora completamos a primeira hora das oito horas de vôo para Johannesburg. A vida no avião não é muito agitada (ainda bem!!!) de modo que voltaremos de Johannesburg. Ah, a fileira de trás já foi tomada e o almoço está saindo...

Agora já estamos escrevendo do hotel em Johannesburg, mas só para completar os comentários sobre a viagem: no fim ela teve sua dose de agitação, e graças a ela não pudemos curtir melhor nosso primeiro por do sol africano, pois podíamos ver aquelas cores deslumbrantes pela janela, mas sentados nas poltronas do meio firmemente afivelados graças a uma bela turbulência que durou quase uma hora e meia, não pudemos olhar mais detalhadamente nem fotografar.

Aliás nesse trecho o avião estava praticamente paralelo à linha que divide a noite do dia: do lado esquerdo era noite e do lado direito o sol ainda estava se pondo. Muito legal!

Chegamos na hora, o motorista que havíamos organizado com o hotel estava lá, e depois de pegar o cartão de celular sul-africano que já havíamos comprado pela Internet viemos para o hotel.


11-13
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Sábado a segunda-feira
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Johannesburg

Hoje já é domingo. Ontem foi um dia puramente 'burocrático': fomos (e conseguimos) comprar o capacete e a jaqueta da Beth (a calça vai ficar para a Europa, na volta) e nos encontramos com o proprietário da empresa organizadora do tour de moto para fazer o pagamento que faltava e deixar a mala com a tralha de moto com ele.

Aliás, estamos esperando o próprio tour para fazer uma avaliação mais completa dessa empresa, mas até agora eles têm sido simplesmente espetaculares!

Hoje fomos visitar o Museu do Apartheid, essa parte tão triste da história da África do Sul. Muito interessante e informativo, passamos quase quatro horas lá dentro. E isso porque a mostra sobre Nelson Mandela está fechada, senão teria sido mais ainda.

Esse museu é muito rico em informação, mas bastante deprimente: é triste ver como, em pleno século XX e depois de tudo que se havia vivenciado durante a segunda guerra mundial com o nazismo, o ser humano ainda foi capaz de criar um sistema de segregação racial tão radical e patrocinado pelo governo, que relegou a maioria da população a uma vida análoga à escravidão.

E durante esses dois dias andando de carro ou ouvindo instruções sobre como chegar a um determinado lugar descobrimos algo interessante: o sul-africano chama semáforo de "robot" (normalmente traffic lightem inglês). Pesquisando no Google uma explicação que nos parece plausível é que quando surgiram os primeiros semáforos eles era chamados de "robot policeman" (policiais 'automáticos'), e como o tempo caiu a palavra "policeman" e sobrou o "robot".

A segunda-feira amanheceu fria e chuvosa, e estamos sentados no hotel tentando decidir o que fazer do dia: está simplesmente frio e úmido demais para fazer programas que envolvam andar por aí - e que é que gostamos de fazer. E nosso quarto se revelou muito frio: calefação por aqui parece ser inexistente ou, como em nosso caso, muito precária. Dormimos enfurnados no edredom e ainda com uma coberta por cima.

Aliás, fizemos algumas descobertas que poderíamos ter feito antes: Johannesburg não é uma cidade turística no sentido de uma Rio de Janeiro ou Salvador. É uma cidade grande, muito espalhada, que como toda cidade grande tem suas atrações específicas mas não propriamente turísticas. Ela não tem praia, nem mesmo rio (é muito comum cidades serem construídas à beira de rios, mas não é o caso de Jo'burg, como ela é chamada por aqui - também a chamam de Jozi).

Além disso o transporte público principal é composto do que chamam de minibus taxis, que são praticamente impossíveis de usar por um forasteiro: eles não têm horários nem percursos fixos, e a forma do candidato a  passageiro saber se um deles vai para onde ele quer ir é através de uma série de sinais de mão reservados para os iniciados.

Resultado: acabamos usando os serviços de motoristas informais associados à pousada, que são muito mais baratos que os taxis oficiais e até mesmo que o Uber. Mesmo assim, é a primeira vez que gastamos tanto com locomoção como para comer...

Enfim, uma série de fatores evitou que nos entusiasmássemos com a cidade, mas também não queremos falar contra pois simplesmente não vimos o suficiente. Mas uma coisa deu para ver: é uma mistura de riqueza e pobreza comparável com São Paulo: nosso Guesthouse fica numa área residencial que parece de classe média/média alta, mas a seis quadras dali passa uma avenida onde sem teto dormem sob as marquises de lojas fechadas.

Mesmo assim tivemos oportunidade de testemunhar algo pitoresco: o trabalho de reparação da rua nas fotos ao lado está sendo feito na base da picareta.

O papel do Bobcat é recolher, com uma escova giratória acoplada à sua pá, os detritos espalhados pela rua. Divisão estranha de atribuições e exploração da tecnologia.
Outra coisa que nos fez lembrar São Paulo foi a paranóia de segurança: além das cercas eletrificadas que estamos acostumados a ver nos bairros mais caros de São Paulo, aqui em algumas ruas todas a casas contam com serviços de monitoração privada de segurança (tipo Graber no Brasil).

Parece que nesse sentido a coisa em Johannesburg é até pior que São Paulo. Mas por outro lado ficamos com a impressão de que a violência brutal e gratuita que sofremos não existe ou é bem menor aqui.

Diários de Bordo