Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens
31/07
/201
6
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Domingo
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Safari, dia 2 - Ngorongoro Conservation Area

Só percebemos que esse dia foi um domingo ao redigir este texto: durante a viagem os dias iam emendando um no outro, e praticamente em nenhum momento houve algum evento que marcasse de forma mais clara os fins de semana. E nosso jipe hoje está mais 'leve': a Moira e o Richard optaram por ficam no hotel, pois estavam muito cansados e ela não estava se sentindo muito bem. O 'leve' não é nenhuma referência a tamanho ou peso: na  realidade os dois era dos menores e mais magrinhos do grupo.

Nosso destino nesse dia foi um parque um pouco diferente dos demais: ele se estende por uma área grande, mas o foco de atenção e visitação é a cratera de um vulcão (Ngorongoro) que explodiu há uns 2-3 milhões de anos, formando uma caldeira vulcânica de (medidas atuais) uns 600 metros de profundidade em relação à borda e um diâmetro de uns 18 km. Claro que a cratera não é perfeitamente circular, mas essa medida dá uma idéia das dimensões.

Levamos quase duas horas entre deslocamento do hotel e paradas para pagar entrada até poder entrar no parque, e essa entrada foi uma bela descida dos 600 metros até o fundo da cratera. Estradinha de terra, não muito plana mas nada terrível, porém suficientemente inclinada para que o guia levasse o jipe bem devagar!

O fato de ser uma  caldeira faz com que a fauna da cratera muitas vezes nunca tenha saído dali. Por exemplo, é um local onde não é certo conseguir ver mas com certeza há rinocerontes negros - ele nascem, vivem e morrem ali. Há praticamente todos os grandes animais, com exceção das girafas: devido à pouca vegetação alta (fonte de alimento para elas) e ao acesso muito íngreme, elas preferem ficar do lado de fora da cratera.

Também elefantes têm uma característica interessante: praticamente só há machos. As fêmeas e suas crias preferem as áreas com mais vegetação no entorno da cratera. Aproximadamente metade (uns 15.000) dos animais são zebras e gnus. Esses dois chegam a cansar pela quantidade.

E há  também uma grande população de Maasai. Esse é um  povo que se espalhou pelo que é hoje o Quênia e a Tanzânia a partir do baixo Nilo (Lago Turkana). Eles são nômades, apesar de atualmente não se deslocarem mais tanto, e vivem quase que exclusivamente de pastoreio de gado, basicamente bovino e caprino.

Os Maasai eram guerreiros ferozes, que dominaram praticamente todos os outros povos nas áreas que invadiram, e se espalharam largamente pelas áreas desses dois países. A partir da segunda metade do século XX começou a formação dos grandes parques nacionais de preservação dos animais, e eles foram deslocados da maioria deles. Na área de Ngorongoro eles têm permissão para se estabelecer fora da cratera e usá-la como área de pastagem.

O resultado é que praticamente lado a lado com os maiores grupos de animais selevagens (zebras e gnus) vê-se manadas de bois ou cabras compartilhando as pastagens da caldeira. Essa convivência também é facilitada pelo fato de que os Maasai, por razões de filosofia religiosa, não se alimentam de caça, somente dos rebanhos que criam. Assim a convivência com os animais selvagens é totalmente pacífica.

Os Maasai se destacam de forma marcante do resto da população devido a sua vestimenta e concentração no pastoreio com atividade econômica. Tínhamos a opção de fazer uma visita a uma aldeia, mas depois das que já havíamos feito e vendo o comportamento dos pastores que encontrávamos,  oferecendo-se para fotos desde que pagássemos, optamos por não fazer a visita. Como os demais companheiros de viagem tomaram  a mesma decisão não houve necessidade de resolver nenhum conflito de interesses.

O resto da manhã foi gasto fazendo o que se faz em safaris: andando para lá é para cá para tentar ver a maior variedade possível de animais. O ponto alto foi quando o guia  recebeu um aviso de que havia sido visto um rinoceronte negro. Là fomos nós, meio em disparada, para o local indicado. Primeiro veio o choque de civilização vs. mundo selvagem: a quantidade de jipes que se concentrou naquele ponto da estrada era tão grande que num determinado momento nem dava para mover o jipe para tentar encontrar um melhor ângulo de visão.

E depois veio o problema de ver os bichos (eram dois): eles estavam muito longe! Na realidade conseguimos vê-los com os potentes binóculos trazidos pelo guia no jipe e depois, em casa, nas fotos. Com aproximação máxima da lente da câmera e lutando para estabilizá-la (num jipe com seis ou sete  pessoas não é fácil conseguir que todos fiquem imóveis para fazer uma foto dessas) até que o resultado foi razoável.

Mas fica aquela sensação curiosa: se alguém pergunta "você viu rinoceronte negro?" certamente temos o direito de dizer que sim, mas ao mesmo tempo não vimos lá muito bem... Mas valeu, mais um para a lista.

Dali seguimos para a beira de um lago que serve como ponto de apoio para a parada de almoço. O almoço em si foi, como de constume, um lunch box, mas pelo menos ali havia sanitários que aliviaram a situação nessa área: tivemos acesso a sanitários nas duas paradas para processar a burocracia de entrada no parque e agora aqui.

E ao terminarmos o almoço fomos informados que do outro lado do lago, a no máximo 400-500 metros de nós, havia uma meia dúzia de leoas dormindo. Com  todo o movimento logo ao lado, elas não estavam nem aí. Claro que tocamos até lá, no jipe, para fazer algumas fotos. Elas estavam bem camufladas no capim alto, mas deu para registrar alguma coisa.

Voltamos a andar pela caldeira, mas não vimos nada que já não tivéssemos visto. Foi basicamente uma sessão de fotos repetidas, na esperança de que alguma fosse melhor que as tiradas até o momento.

E para a saída da cratera ficou reservado um detalhe interessante: entramos numa estrada pavimentada em blocos de cimento (qualquer tipo de pavimento numa área dessas é uma enorme surpresa) e limitada a veículos 4x4. Como, pavimentada e mesmo assim só para 4x4? É: a danada da estrada é tão ínclinada, que dificilmente um carro com tração dianteira subiria aquilo - e hoje em dia a maioria dos carros de passeio são tração dianteira. Foi uma subida bonita, dando a oportunidade de algumas vistas de despedida da caldeira.

Durante a viagem de volta começou a geração de um motim: a previsão para o dia seguinte era de visitar mais um parque (Tarangire), mas buscando informações com o guia ficamos sabendo que não haveria animais que já não tivéssemos visto e o deslocamento seria de aproximadamente 3 horas de manhã só para chegar ao parque e mais três horas à tarde para retornar a Moshi.

Praticamente de forma imediata e unânime todos concordaram quando um de nós (não lembramos quem foi) sugeriu que poderíamos voltar direto e descansar um pouco ao invés de ficar mais 10-12 horas dentro daquele jipe. A única pendência é que seria necessário encontrar mais duas pessoas com a mesma disposição, para completar a lotação do veículo e não deixar uma sobrecarga para o outro.

Isso também foi facilmente solucionado: ao chegarmos ao hotel encontramos a Moira e o Richard que imediatamente concordaram entusiamados com a idéia. Ainda se tentou montar uma 'assembléia' para discutir o assunto com os outros sete viajantes, mas eu disse a eles que não havia necessidade de grandes discussões ou confabulações: um carro estava fechado para voltar, se eles quisessem continuar ou não ficava a cargo deles. E assim foi feito, eles optaram por visitar Tarangire.


01/08
/201
6
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Segunda-feira
:
Safari, dia 3 - o safari que não aconteceu

O dia já começou mais gostoso porque já que não tínhamos nada planejado, pudemos nos dar ao luxo de dormir mais um pouco. Marcamos o café da manhã para as 7h30  com saída às 9h00. Que delícia!!!

A volta foi longa, porque paramos para comer os lunch boxes trazidos do hotel além de outra parada 'técnica' para sanitários. Sem problemas, não tínhamos pressa. Também tivemos oportunidade de observar e documentar a forma como nosso motorista/guia e os outros motoristas fazem ultrapassagens. Para nossos padrões é uma loucura total, mas aqui não se ouve uma buzina ou reclamação: quem vem em sentido contrário simplesmente reduz ou vai para o acostamento (quando há) e tudo se resolve de forma pacífica (??).

O mesmo se observa em relação aos pedestres: motos, carros, ônibus e caminhões passam raspando pelos pedestres que caminham ao longo da estrada, e nem os veículos fazem menção de se afastar nem os pedestres vão mais para longe da pista. É todo um protocolo de relacionamento entre todos esses componentes do trânsito diário que simplesmente temos muita dificuldade de assimilar.

Ao chegarmos ao hotel tivemos uma surpresa não muito agradável: fomos informados, de supetão, que seríamos deslocados para outro  hotel. Para piorar ainda  mais o inesperado, houve algum problema de comunicação com os funcionários do hotel e ficou a impressão inicial de que parte do grupo ficaria num e o resto no outro hotel.

Esse mal-entendido gerou uma grande confusão, pois nenhum de nós estava disposto a aceitar isso: era as duas últimas noites do grupo, e queríamos pelo menos poder fazer uma despedida com calma. Para piorar o Darryl não estava presente porque uma das pessoas do novo grupo que iniciaria a mesma viagem, mas no sentido inverso, havia sofrido um acidente e ele, obviamente, estava dando a assistência necessária.

No fim ficou esclarecido que o grupo todo iria para o outro hotel  e lá fomos nós, novamente nos jipes e com mais um furgão (que veio um pouco depois) com nossas malas que haviam ficado no hotel durante o safari. No fim até nos saímos bem, pois o novo hotel era melhor e mais agradável que o anterior, mas a forma pouco transparente como foi feita a realocação deixou uma sensação desagradável.

E existe uma explicação perfeitamente razoável para que a SAMA Tours estabelecesse Moshi como base do encerramento do tour: um dos detalhes chamativos do tour era fazer a viagem da África do Sul até o monte Kilimanjaro. E Moshi fica bem pertinho do Kili, como o chamam carinhosamente aqui, permitindo inclusive vê-lo dos jardins do hotel  - tanto do anterior como do novo.

Esse belo atrativo para encerrar o tour só teve um  probleminha: quem disse que se conseguia ver o danado do monte? Tivemos três oportunidades de vê-lo (na saída para o safari, na volta e na partida para o aeroporto no último dia. E o melhor que conseguimos dessas três oportunidades foi a foto ao lado. Legal, mas temos nossas dúvidas se valeu a pena as horas de jipe até conseguir atravessar Arusha. Por outro lado, se não houvesse a névoa e tivéssemos podido ver o Kili em toda sua imponência provavelmente estaríamos dizendo que valeu cada minuto das viagens. Não dá para resolver tudo de forma absolutamente perfeita.

Passamos o resto da tarde rearrumando as malas, salvando fotos e  fazendo cópias de segurança, acertando pendências bancárias  e outras que se acumularam pela falta de Internet e assim  passou o tempo até a noite. Tentamos (os sete que vieram antes) postergar  o jantar o máximo possível para dar tempo ao pessoal que fora ao Tarangire para voltar e jantar conosco, mas no fim começamos  a comer antes deles chegarem: a fome bateu! Eles chegaram quando estávamos comendo, e ainda deu para terminarmos a noite todos juntos, apesar deles estarem exaustos - exatamente a razão pela qual decidimos pular o programa desse dia.

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Diário de bordo -  África 2016

Tour de moto: Tanzânia IV