Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  África 2016

Tour de moto: Botswana II

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13/07
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6
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Quarta-feira
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Nata - Kasane

Hoje a jornada foi bem mais curta: menos de 320 km. O café da manhã em Nata foi simples mas plenamente satisfatório, apenas com duas curiosidades: o pão era basicamente o velho conhecido (de forma) mas não havia torradeira, e não havia nenhuma geléia para o pão. A única coisa doce que ofereciam era mel.

Quando saímos Jonathan avisou, no briefing que ele faz todo dia antes da partida, que o percurso seria praticamente todo em área de animais selvagens, e que deveríamos ficar de olho, junto com ele, para ver e parar para apreciar o que aparecesse.

E não deu outra: de repente ele acendeu as luzes de emergência, e retornou um pedaço, dizendo que vira um elefante. Nessa volta ele não o viu mais e achou que havia se enganado. Mas ele tinha razão, Beth achou o elefante e fizemos nossas primeiras fotos 'de verdade': com o animal bastante próximo de nós.

Felizes pelo encontro prosseguimos, e depois de alguns minutos paramos novamente, dessa vez por causa de uma família inteira. Demos a volta para nos posicionarmos melhor e Beth queria descer da moto para fotografar melhor. Pedi a ela que não fizesse isso, pois um dos elefantes estava olhando em nossa direção e abanando as orelhas - melhor não dar chance dele ficar irritado...

Ainda houve outras visualizações de elefantes e um outro motorista mencionou algumas girafas, mas essas não vimos. Fora essas paradas para ver animais e a travessia de duas cidades relativamente pequenas a viagem rendeu muito bem. O único pequeno inconveniente é uma coisa meio estranha que há nas estradas desse país: de vez em quando aparece um sinal de STOP (aquele hexágono vermelho que também temos) com um indivíduo sem uniforme militar ou policial sentado ao lado. Nossa obrigação é parar, colocar o pé no chão, olhar para a esquerda e para a direita e aguardar o sinal para seguir do 'fiscal'. Uma forma de provar que se está obedecendo às leis de trânsito do país. Ou uma forma de empregar mais gente? Esquisito!

Após uns 100 km paramos para tomar um café (esse pessoal toma um bom café da manhã no hotel e duas horas depois está comendo biscoitos e barras energéticas - como comem!) e depois de mais cem fizemos uma parada rápida de alongamento. Às 12h05 estávamos no hotel, a tempo de pegar o almoço.

Dessa vez estamos num belíssimo logde, muito bem montado e decorado e extremamente confortável. Só chamou a atenção o ar condicionado pré-histórico num quarto moderno e bem montado. Felizmente não precisaremos dele: aqui não está tão frio, e parece que o isolamento térmico do quarto é excelente.

Tivemos tempo de almoçar com calma e descansar um pouco antes do programa da tarde: um passeio de barco no rio Chobe, à margem do qual fica o hotel. Esse rio divide Botswana da Namíbia. Aliás a Namíbia tem um território que cria uma situação de fronteiras bastante curiosa: ela fica basicamente no oeste da África, com o oceano Atlãntico a oeste, África do Sul ao sul, Botswana a leste e Angola ao norte.

Mas na parte norte do país, uma estreita língua de terra se estende para leste ao longo de todo o norte de Botswana, separando este país de Angola e de Zâmbia. Essa língua de terra termina quase no Zimbabwe, deixando apenas algumas centenas de metros de fronteira entre Botswana e Zimbabwe, exatamente onde atravessaremos depois de amanhã. Os locais chamam esse lugar de Bonazazi (Botswana, Namibia, Zambia e Zimbabwe), para ilustrar essa quádrupla fronteira que se forma no rio Chobe.

O rio faz parte do Chobe National Park, e é o único lugar que oferece a possibilidade (remota mas real) de ver os Big 5 de barco. Mas se é bastante improvável ver os 'gatos' de barco, os realmente bigs (grandes) existem em profusão: elefantes por toda parte e em enorme quantidade. Segundo o guia há em torno de 120.000 elefantes no Chobe National Park. É a área mais densamente povoada de elefantes na África.

E foi o que vimos primeiro. Na realidade houve um crocodilo antes, mas ele não conta muito. E o legal é que mesmo já tendo visto alguns elefantes razoavelmente próximos de nós na estrada, dessa vez pudemos vê-los mais de perto ainda, com chance de observar alguns hábitos, como o de lavar o capim que comem antes de engolí-lo. Enchemos os olhos e o chip da câmera de imagens!

A continuação do passeio nos mostrou ainda hipopótamos (mais uma vez...), búfalos e diversos pássaros. Ficamos sabendo que os animais herbívoros convivem pacificamente, ao contrário dos predadores carnívoros. Por isso a mistura de zebras, gnus, elefantes, hipopótamos, búfalos e antílopes sem conflitos.

Quando já estávamos certos de ter visto tudo que havia a ver dos elefantes fomos surpreendidos com mais uma cena espetacular: um grupo de uns 20 animais atravessando, a nado, da terra firme para a ilha que fica no meio do rio Chobe. Eles atravessam rigorosamente em fila indiana, com os filhotes entre os grandes para protegê-los. Aliás esta época do ano é linda também por esse aspecto: todas as espécies animais estão com os filhotes ainda bastante pequenos aprendendo a enfrentar a vida.

E ficamos sabendo também que a riqueza da fauna de Botswana se deve em parte à rigorosíssima legislação de proteção aos animais: a pena para abate intencional de um animal silvestre é pura e simplesmente de morte! Quem vai se arriscar?

Outra característica curiosa do rio Chobe, consequencia do relevo de Botswana: ele pode correr em dois sentidos. Na época mais seca, em que o rio Zambese com que ele se junta não está muito caudaloso, o Chobe corre de Angola para o oceano Índico. Quando o Zambese enche ele corre ao contrário, na direção de Angola. Isso só pode acontecer numa planície como essa aqui: absolutamente plana a perder de vista, para todos os lados. Pode ser que haja montanhas em algum lugar, mas o leste de Botswana, que percorremos, é inacreditavelmente plano.

De volta ao hotel era quase hora do jantar. Ainda tentamos acessar a Internet, mas não tem jeito: isso claramente não é um prioridade dos hotéis por essa bandas do mundo. Como sempre só nas áreas comuns, e como antes do jantar todo mundo que passou o dia passeando quer navegar, a rede simplesmente para. Esse aspecto da viagem está realmente difícil.

Jantamos bem e fomos dormir: amanhã será um dia de descanso que começará de forma cansativa: game drive às 6h00! No jantar o Jonathan fez uma agradável surpresa de aniversário atrasada: a Beth havia mencionado meu aniversário no dia anterior e hoje o pessoal do restaurante (todos os garçons e garçonetes) veio com um bolo para comemorar. O interessante é que eles vêm dançando e cantando na língua deles, e depois complementam com o Happy Birthday tradicional.

Perguntei a eles o significado em inglês do que eles haviam cantado na língua nativa, mas não consegui entender a resposta: primeiro eles mesmos tiveram dificuldade de fazer essa tradução (ficaram confabulando entre si - aparentemente jamais alguém havia feito essa pergunta) e, como já tem acontecido com frequência, tive dificuldade de entender a resposta: juntando a difculdade deles de falar inglês com a minha de entender o sotaque, não sobrou muita coisa.


14/07
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Quinta-feira
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Kasane

Dia de descanso! Mas primeiro temos que passear no frio: às 5h45 estávamos na recepção, para iniciar um game drive de três horas pelo Chobe Nacional Park. A expressão game drive descreve, em qualquer parque de safari, o passeio de carro 4x4, muitas vezes aberto, para tentar ver animais. Game nesse caso não é jogo mas sim animais selvagens. Não sabemos porque se usa essa palavra com esse sentido em inglês, e perguntando ao australiano e ao sul-africano eles também não souberam esclarecer.

O inglês também usa essa palavra para descrever caçadas (game hunting) e ficamos especulando se não há alguma relação entre jogo (sentido original e usual da palavra game) e aposta: afinal tanto numa caçada como num game drive, há um elemento de incerteza que em inglês é descrito como aposta (gambling): ao sair em procura dos animais estou apostando que vou encontrá-los, num jogo de esconder com eles. Testamos a explicação com os participantes de língua inglesa e eles acharam que poderia ser a explicação, sem porém poder confirmá-la.

Partimos às 6h00, ainda no escuro, enrolados nos cobertores oferecidos pelo motorista. Esses game drives são realizados geralmente bem cedo de manhã ou no fim da tarde, pois é nesses horários que muitos animais se movimentam para procurar alimento ou água, e acabam atraindo também os predadores. Já estamos nos preparando psicologicamente para os quatro dias de safari que faremos no fim do tour...

Infelizmente, foi um dia em que a aposta pagou pouco: além de relativamente poucos animais, as fotos não ficaram lá grande coisa. Tudo bem que vimos duas girafas a certa distância, algumas variedades de antílopes e até os elefantes conseguiram nos oferecer uma nova experiência: vê-los passar por trás do carro com absoluta tranquilidade, como se fossemos apenas mais um deles. A gente chega a prender a respiração com medo de chamar a atenção deles e talvez ser considerado alguma forma de ameaça! Mas os felinos continuam primando pela ausência.

E a pouco mais de um quilômetro antes do hotel ainda topamos com mais uma família de elefantes que decidiu atravessar a estrada por onde vínhamos. O motorista parou o carro na beira da estrada, praticamente no caminho deles, o que os fez passar por trás do carro, a menos de três metros. É muito interessante como em todos os lugares os animais convivem de forma completamente pacífica com o monte de carros que procura por eles - no parque, hoje, vimos no mínimo uns vinte. Com exceção dos antílopes, que são mais ariscos, os outros nem sequer levantam as cabeças.

Chegamos ao hotel a tempo de pegar o café da manhã, e como já eram quase 10h00, tratamos de transformá-lo em almoço: comemos a nos fartar de um excelente buffet, e tiramos o resto do dia para descansar. Agora são 14h00, Beth está tirando uma soneca e eu estou sentado no terraço do quarto em frente ao Rio Chobe, vendo a Namíbia do outro lado do rio, terminando de escrever este texto. Daqui a pouco vou para a recepção ver se consigo acessar a rede antes dos outros hóspedes. E ainda agraciado por javalis pastando a uns dez metros de mim... África e suas surpresas! E ficamos conhecendo uma característica muito interessante dos javalis: eles ficam de joelhos, nas pernas dianteiras, para pastar. Muito curioso!
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